Os Perigos da Superproteção
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Os Perigos da Superproteção


Eu não tenho nenhum pudor em dizer que para defender e proteger minha filha eu sou capaz de quase tudo, isso porque não pactuo ilegalidades. Reconheço também que muitas vezes atrasei o desenvolvimento dela quando confundi e ultrapassei a tênue linha entre o que é proteção e o exagero que configura a superproteção. É em razão desta experiência que elaborei o texto:

                                                   Os Perigos da Superproteção

 Todos sabem que o sentimento de proteção à sua cria é inerente à maioria das espécies do reino animal.
  A proteção ao filhote é instintiva, ela se manifesta nas situações de perigo, de risco, na manutenção da sobrevivência. Transportando este sentimento de proteção para a raça humana, tão indefesa na tenra idade, esperasse dos pais que eles afastem o perigo iminente, alertem sobre os riscos de sua incidência e, por vezes, apontem o caminho que entendam mais seguro.
Em outras palavras, preparem os seus filhos para a vida, para serem independentes, para seguirem seus caminhos e suas escolhas. Creio que isso é o certo a se fazer. O mais saudável.
  Mas nem sempre é assim, principalmente quando um de nossos filhos, em razão de alguma questão, necessita de cuidados especiais. Ai toda lógica vai para o espaço, o sentimento que deveria ser de proteção e de preparo para a vida, se potencializa. Você quer antecipar tudo para que nada aconteça diante das dificuldades que seu filho já enfrenta.
  Eu me coloco nesta categoria de superprotetora. Sem nenhum pudor, visto a minha capa de heroína onipresente, tento antever os perigos que nem existem e saiu atropelando tudo. Não tenho limite mesmo, jogo sujo, “por debaixo do pano”, tento comprar tudo e todos para que minha cria não tenha que enfrentar mais dificuldades.
  Uma vez eu fui chamada pela Coordenadora pedagógica para uma conversa na qual ela me pedia, em resumo, para que eu fizesse menos pela minha filha porque eu não a estava deixando crescer e ter suas próprias experiências, amadurecer. Eu confesso que cheguei a corromper crianças de 5 anos, eu disse 5 anos, com presentes, balas e chocolates para que não maltratassem minha filha, situação que sequer existia, loucura, exagero, não é ?!
  Mas este é o perigo da superproteção, a falta de limites.
Ficamos cegos e surdos. A razão passa ao largo.
  Eu sai dessa reunião morrendo de raiva contida, sentei no meu carro e chorei copiosamente. Quem era aquela mulher para dizer que eu devia amar menos minha filha? O que ela sabe das suas reais fragilidades e dificuldades. Eu poderia dar uma aula sobre o assunto, bibliografia completa e tudo.
  Passada a fase da indignação que durou um bom tempo, lampejos de razão me fizeram ponderar que a Coordenadora em momento algum disse para eu amar menos minha filha. Quem diria uma coisa dessas, só a cegueira da superproteção poderia deduzir tamanho absurdo.
  O que ela sensatamente aconselhou, é que eu parasse de tentar protegê-la demais, porque eu a estava sufocando, atrasando seu desenvolvimento e a tornando cada vez mais despreparada para seguir a vida sem mim.
  Infelizmente, falta à eternidade, não temos garantias e o tempo não para, principalmente para aqueles que têm filhos com questões especiais. É uma corrida insana para deixá-los os mais preparados possíveis para viver sem nós. E ai eu tenho que concordar que os excessos da superproteção só atrapalham.
  A partir do momento que eu tomei consciência desses fatos, começou em mim um processo para me libertar das amaras da superproteção. Esta mudança de atitude não é fácil. A minha melhora tem sido a conta gotas. Mas todos já visualizaram grande ganho na minha filha: independência, amadurecimento, melhora no convívio social.
  Todo dia eu sofro para deixá-la seguir seu caminho sem que eu atropele as coisas. Eu fico repetindo um mantra: “Eu não posso viver a vida dela por ela”. Ela vai errar, vai cair, mas vai se fortalecer com isso.
  Não vou dizer para vocês que não tenho recaídas. Outro dia, conversando com a mediadora a respeito das possíveis dificuldades na época do vestibular e faculdade, antecipando um futuro tão longínquo, pois ela só tem 10 anos de idade e ainda esta cursando o ensino fundamental, eu disse categoricamente: “Não haverá problemas, se preciso eu compro uma vaga para ela.” Olha a recaída e os excessos da superproteção voltando à tona.
Confesso que vou passar a vida lutando contra os perigos da minha mente superprotetora e pelo bem de todos espero conseguir.
Roberta Haude



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