Autismo



A inspiração para esse novo texto veio através dos questionamentos e relatos de varias mães que, como eu, enfrentam em sua rotina diária momentos difíceis diante da inabilidade de seus filhos em lidar com as frustrações. 


                                         A “saia justa” não nos cabe!

Desde muito pequena a minha filha me colocava diante de situações que, aos olhos dos outros e dos meus, ainda inexperientes e não treinados, causavam espanto e constrangimento.

Eram crises de choro, gritos, agressões que muitas vezes eu não sabia traduzir o “por que” e tinha ainda que encarar o olhar julgador de terceiros que viam a cena como falta de limite, de educação, excesso de permissividade e tudo mais. Eu ficava arrasada, sofria de doer (ninguém quer ver seu filho ser objeto de julgamento, muito menos depreciativos e maldosos).

 Além de ter que entender e controlar os ataques de choro e raiva ainda tinha que ficar de frente com a maldade humana e na melhor das hipóteses, com a sua piedade. Confesso que chegava em casa aos farrapos, nem o meu chuveiro era capaz de aplacar minhas lágrimas.

Só para ilustrar, teve uma vez e fomos ao supermercado, lembro que estava cheio, e de repente minha filha começou a gritar e chorar, ela tinha uns dois anos e meio, mas ainda não falava, e eu e a babá tentamos segurá-la, ela saiu correndo arrancou a roupa e ficou pelada no meio do supermercado que parou para apreciar a cena.

Definitivamente, eu precisava de orientação e fui buscá-la com quem conhece o assunto (nossa neuropediatra e a fonoaudióloga). Com elas aprendi que para crianças autistas, que é o caso da minha filha, lidar com qualquer tipo de frustação (tudo aquilo que esperam e não acontece ou lhes é negado) é elevado à máxima potência, porque eles não aceitam bem a mudança de rotina, na qual se estruturam; são muito sensíveis a rostos desconhecidos, barulho, novos ambientes; e como têm dificuldade em expressar seus sentimentos através da fala, usam de outros artifícios para demonstrar sua insatisfação.

Eu tive em casa um exemplo marcante do que essa dificuldade em dizer o que sente pode acarretar a algumas dessas crianças. Minha filha vivenciou uma crise de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), aos três anos de idade, por que não sabia me dizer que não estava gostando da escola que frequentava. Foram tempos muito difíceis, tivemos que ficar em casa, eu e ela, sem sair, por 15 dias até que a medicação específica começasse a fazer efeito. O passo seguinte foi mudar de escola e passar por um novo período de adaptação, recheado de inseguranças e temores. No final tudo deu certo, ela se adaptou muito bem e hoje vai para o sexto ano do ensino fundamental regular, nesta mesma escola.

Voltamos então à pergunta: o que fazer diante dos ataques de birra? Os especialistas me ensinaram primeiro a minimizar a possibilidade de incidência. Como? Evitando expô-la a locais muito cheios e barulhentos (se não tivesse alternativa, ficava o mínimo de tempo que ela podia tolerar), antecipar sempre a rotina para que ela saiba previamente o que vai acontecer (eu fazia isso através de fotos e figuras, por que ela assimila melhor quando é feito visualmente).

Nas situações em que o ataque resultante das frustrações se apresentava, a orientação era fazer a contenção física (tomando cuidado para não machucar nem a ela nem a mim), depois tirá-la do ambiente imediatamente e, por fim, mudar o foco de sua atenção e interesse. No início foi difícil, principalmente encontrar algo que fosse objeto de seu interesse. As vezes o melhor era voltar para casa, mas com a prática, o amadurecimento emocional e o desenvolvimento da linguagem tudo ficou mais fácil.

Eu também amadureci com o passar do tempo, deixei de sofrer pelo que os outros pensavam e pelo seu olhar julgador, quem sabe de mim e da minha filha sou eu. “Saia Justa” deixou de existir para mim, passei a não olhar nem para o lado. O que me interessa é entender, acolher e ajudar a minha filha a se desenvolver. E sabe o que foi mais surpreendente é que a partir do momento em que eu adotei essa postura o mundo ao redor passou a nos tratar com muito mais respeito e consideração.

Por fim, diante do compromisso de verdade que tenho comigo e com quem vive realidade similar, não posso deixar de dizer que até hoje ela (atualmente com 12 anos) ainda tem dificuldade de aceitar o não e a mudança de combinados e rotinas. É claro que agora já podemos dialogar e não há mais necessidade de contenção física, mas se eu não mudo o foco ela é capaz de me levar à loucura, insistindo na mesma tecla até conseguir o que deseja. Fico impressionada com sua inteligência e esperteza para criar estratégias e alcançar o seu objetivo. Muito particularmente, morro de orgulho.

Roberta Haude



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