Como ponto de partida, é importante se pensar no ambiente da sala de aula na qual a criança portadora de autismo freqüentará.
Uma vez que se leve em conta a dificuldade para  sustentar a atenção e trocar foco de atenção, a necessidade de  previsibilidade de rotina e o desconforto sensorial presente na maioria  das crianças com autismo, automaticamente surge a necessidade de adaptações do próprio ambiente de sala de aula. Neste sentido, é importante que:
 O portador de autismo se sente próximo ao  professor para que o mesmo possa ajudá-lo a dirigir o seu foco de  atenção e manter a atenção no que é relevante.
 Na sala de aula exista quadro com informação  visual dando dicas sobre a rotina do dia e ajudando o aluno a antecipar e  se organizar diante das atividades propostas. Como por exemplo, a  existência de uma seqüência de fotos (ou escritos, para quem já lê)  demonstrando a ordem das atividades do dia assim como a presença de  alguma atividade que foge a rotina (ex. festa de aniversário ou um  teatro). O professor deve ensinar o aluno a utilizar o quadro para se  organizar. Esta seqüência pode ser construída se utilizando velcro por  trás da figura de forma que a criança retire a atividade para qual ela  está se encaminhando e a guarde no local onde deve se dirigir (ex. ao ir  para educação física ela retira do quadro a figura da educação física e  a entrega para o professor na quadra de esportes). Deste modo, a  criança sabe para onde vai e tende a ficar menos estressada com as  mudanças de sala e com os imprevistos (que freqüentemente são um  problema no ambiente escolar). A palavra chave para diminuir o estresse  com mudanças de rotina é antecipar. Se a aula de informática hoje será  realizada em outra sala, pois a mesma está sendo pintada, o aluno  precisa saber disto antecipadamente (e não na hora que está se dirigindo  para a aula com a foto na mão). O professor deve levá-lo ata a sala  para ver o pintor trabalhando e depois mostrar que hoje será nesta outra  sala.
 Exista uma consciência coletiva do quando  barulhos ou sons específicos se tornam desconfortáveis (ou até  dolorosos) para alguém com autismo. É claro que não é possível conseguir  que uma turma inteira se torne silenciosa, mas é possível antecipar e  prevenir barulhos especialmente ruins como, por exemplo, alguns  instrumentos na aula de música ou estalinhos em uma festa junina. O  simples fato de antecipar para a criança com autismo que tal barulho  ocorrerá normalmente já traz algum benefício (o pior é ser pego de  surpresa). Se existir na escola algum ambiente especialmente barulhento e  que a criança não consiga lidar, é importante que se pense em alguma  alternativa de local ou atividade para se propor. Para algumas crianças a  hipersensibilidade sensorial é tão intensa que somente o uso de  protetor de orelhas viabiliza a sua estada em uma sala de aula regular.
Partindo-se do ponto onde o autista tem dificuldade  para compreender informações mais abstratas, a tendência de se ter um  pensamento mais visual e a tendência de se ater a detalhes (em  detrimento do todo), é possível enumeras importantes adaptações na  didática e tipo de atividades. Neste sentido, é importante que:
 Se use recursos visuais múltiplos e variados para  se conseguir o entendimento do que está sendo proposto. Por exemplo, se  o professor pegar o mapa do mundo e visualmente for mostrando ao aluno  como se deu a colonização das Américas, este conteúdo tem mais chance de  ser aprendido. Se o professor completar o mapa com a foto dos  principais envolvidos, seus nomes e suas motivações em cima das setas  referentes ao trajeto do colonizador, mais informações serão dadas. E  assim por diante. Deve-se priorizar a via visual em paralelo com as  informações escritas ou ouvidas.
 O professor esteja atento a dificuldade que o  aluno com autismo normalmente tem para interpretar textos e enunciados  mais abstratos e complexos. É comum existir dificuldade para que o aluno  entenda qual é a idéia central e mais importante. Em função disto, se  necessário, o professor deve ajudar o aluno a interpretar o texto ou  mesmo o enunciado de uma prova, pois esta dificuldade é uma das  características do perfil cognitivo do portador de autismo (e não que  ele não queira se esforçar...).
Quanto às adaptações de tipo de atividade é  interessante relatar que o aprendizado, a motivação e o tempo de atenção  melhoram muito quando o professor consegue misturar ao conteúdo escolar  fatos ou dados que tenham relação com os interesses restritos dos  portadores de autismo.
Se para ensinar medida em centímetro o professor  puder utilizar figuras de dinossauros com diferentes tamanhos de pescoço  a serem medidos para um aluno apaixonado pelo tema, certamente a  atenção e motivação do mesmo será muito maior, e com isto o aprendizado.
De forma semelhante, diante de um aluno apaixonado  por bandeiras de diferentes países o professor pode trabalhar a  geografia do mundo utilizando o mapa em conjunto com as bandeiras.
O importante é encontrar um equilíbrio entre  respeitar e utilizar as repetições no processo de aprendizado, ao mesmo  tempo em que se tenta motivar o aluno para novos conceitos e  conhecimentos.
As adaptações de conteúdo e de avaliação dependem  integralmente das características de casa aluno, mas de maneira geral  conteúdos que dependem de interpretação, inferências, metáforas e  linguagem simbólica requerem adaptação (ou pelo menos maiores  explicações). É importante ajudar o aluno a enxergar a questão que está  sendo proposta de maneira ampla, com flexibilidade de pensamento (o  professor deve mostrar que podem existir diferentes pontos de vista em  uma mesma questão) e o ajudando a fazer as inferências e tirar as  conclusões necessárias. Quando necessário, o professor deve fazer as  adaptações de conteúdos, avaliação e tempo que julgar adequado.
A seguir, serão abordados aspectos relacionados à  sociabilidade. A escola certamente desempenha um papel central na vida  social de uma criança.
Em função dos dados expostos nos capítulos anteriores, é fato que a  dificuldade social é um problema central na vida dos portadores de  autismo.
Neste sentido, com freqüência a criança autista não  só não encontra prazer na vida social escolar como freqüentemente é  alvo de maus tratos (bulling) neste ambiente.
Dai a responsabilidade da escola de estar alerta para as questões sociais que envolvem um portador de autismo.
Em primeiro lugar, é importante que fique claro que  não basta a criança estar em grupo para estar socializada. Os  professores e os demais profissionais da escola devem estar atendo no  sentido de ajudar e mediar a relação social da criança com autismo (na  medida da necessidade).
Neste sentido, é importante que:
 O professor ajude a criança a participar das  atividades e brincadeiras. Para isto pode ser necessário explicar regras  de determinados jogos, ajudar o aluno a entender o que os outros  esperam dele em cada situação, antecipar possíveis reações das outras  crianças (ajudando a criança autista a ver pelo ponto de vista do outro)  e até intermediar algumas negociações.
 O professor mantenha contato freqüente com a  família para que a mesma seja informada do que está em voga socialmente  naquele momento. Se todos colecionam figurinhas do algum X, pode ser  útil a criança com autismo também ter estas figurinhas para poder trocar  no recreio. Se todos vêem na TV um determinado programa pode ser  interessante a criança conhecer para poder participar do assunto.
 O professor ajude a criança a aprender a ter  leitura social. Por exemplo, quando a criança com autismo estiver sendo  socialmente inadequada em algum sentido, o professor pode ajudá-la a  fazer a leitura social necessária, tal como inferir como estão se  sentindo os outros a partir da expressão facial e antecipar outras  maneiras como poderia se comportar naquela situação.
Para muitos educadores o principal desafio da  inclusão de autistas na escola regular é conseguir manejar os  comportamentos inadequados, como gritar, fazer birras, pular ou correr  em sala de aula. Ponto fundamental neste aspecto é o entendimento de que  os comportamentos acontecem em contexto. Por mais que um comportamento  pareça não ter motivo, quase sempre este motivo existe. Pode ser um  motivo que não faz sentido aos olhos das outras pessoas, mas que  claramente faz sentido no universo e nas peculiaridades cognitivas de um  autista.
Uma criança que se recusa a colocar uma camisa de  outra cor (na divisão de times da educação física) pode se tornar  agitada e agressiva se forçada. Tal comportamento aparentemente não faz  qualquer sentido. Mas se olharmos sob o ponto de vista da criança é  possível que a mesma se recuse a vestir a camisa colorida, pois sabe que  na escola é necessário usar a camisa do uniforme e que ela não deve  desrespeitar esta regra. O problema é que os outros alunos conseguem  flexibilizar a regra e a criança com autismo muitas vezes não.
Com isto, é necessário que o professor e os demais educadores da escola  tentem entender as questões de comportamento da criança portadora de  autismo levando em conta a sua visão de mundo. Não que dizer que a  escola tem que ceder as birras e aos gritos, mas entendendo o porquê  fica mais fácil negociar, argumentar, antecipar, usar os recursos  visuais e explicar o que está acontecendo para a criança.
Para finalizar, é importante que se fale da  dificuldade de atenção encontrada nos alunos com autismo. Tal quadro  varia, mais uma vez, conforme o grau do autismo e a faixa etária da  criança. Esta queixa, porém, é extremante freqüente sendo narrada a  dificuldade para manter a atenção em atividade como "rodinha" ou leitura  de estória (para os mais novos) e para prestar atenção nas aulas (para  os mais velhos).
Como recurso para lidar com a desatenção em sala de aula, pode ser útil:
 Antecipar para a família e para o aluno conteúdos  que serão tratados na escola para que o mesmo seja motivado e envolvido  no tema. Como exemplo, é possível imaginar a situação na qual a escola  vai trabalhar o conceito de índio na próxima semana. Com isto, a criança  pode ser levada ao museu do índio no final de semana anterior e se  familiarizar com o assunto. Provavelmente terá mais atenção no tema.
 Manter o aluno fisicamente sempre próximo do professor para que o mesmo o ajude a dirigir a atenção.
 Usar as adaptações didáticas e de atividades expostas neste texto.
Para concluir, é fundamental que fique claro que  quando se fala em educação para autismo deve se ter em mente que isto  não se refere somente a aprendizado acadêmico e sim a um aprendizado  mais global, que deve incluir habilidade social, linguagem, comunicação,  comportamentos adaptativos e redução de comportamentos problemáticos.  Este processo de educação em portadores de autismo deve envolver as  famílias, professores, profissionais extra-escola envolvidos no caso,  além dos próprios portadores de autismo.
Fonte:http://www.carlagikovate.com.br/aulas/autismo%20compreendendo%20para%20melhor%20incluir.pdf