ALFABETIZAR NA PRÉ-ESCOLA? SIM OU NÃO E AGORA?
Autismo

ALFABETIZAR NA PRÉ-ESCOLA? SIM OU NÃO E AGORA?


Terça-feira, Julho 10, 2007

ALFABETIZAR NA PRÉ-ESCOLA? SIM OU NÃO E AGORA?

Valéria Korik Franco. Pedagoga Especializada D.I-D.A. Psicopedagoga.
O segmento de ensino-aprendizagem é bastante complexo e para melhor compreendê-lo devem-se conhecer as etapas do desenvolvimento humano, as influências e contribuições de fatores importantes nesse processo; a criança inicia a aprendizagem desde o ventre de sua mãe e continua por toda a vida, porém é a partir do nascimento que o ser humano participa ativamente de seu desenvolvimento. Para a aprendizagem de conteúdos científicos na escola, a criança necessita de algumas condições básicas para aprendê-los, condições estas que dependem do desenvolvimento, influências do meio, entre outros fatores, ou seja, são pré-requisitos básicos para compreender novos conteúdos e assim por diante.

Porém, percebe-se que muitas crianças apresentam dificuldades relacionadas à aprendizagem principalmente no período da alfabetização, o que pode estar vinculado a inúmeros fatores, como: estímulos precários, problemas neurológicos, condições físicas e emocionais, ou seja, faltam as condições básicas. No entanto, o que muitas vezes acontece é a cobrança exagerada, a exigência na hora de aprender a ler e escrever mesmo a criança não estando preparado para assimilar esse tão complexo processo, o que se torna um dos principais fatores, que leva pais e professores a tratarem o aluno como portador de dificuldade de aprendizagem.

Cada criança tem um momento próprio de aprender e quando há falta de estímulos ou uma grande cobrança no momento da alfabetização pode causar uma demora no aprender, o que é confundido com a dificuldade de aprendizagem. É aí, que podemos perceber claramente a importância e a função da pré-escola, pois é quando a criança deverá ser estimulada e preparada para a alfabetização, trabalhando os pré-requisitos nos aspectos: cognitivo, motor e afetivo/social.
Embora tenhamos claro que cada criança é um ser único, muitas vezes trabalhamos numa sala de aula como se fossem todos iguais, tardando a aquisição de conteúdos para alguns alunos, e ainda se faz uma comparação entre eles e não se observa os progressos obtidos por cada um em diferentes momentos da vida escolar, principalmente durante o processo de alfabetização. Assim, o que pretendemos é justificar a importância das condições iniciais para a aprendizagem, como a criança se desenvolve em todos os aspectos e para isto podemos buscar embasamento nos principais autores que tratam sobre as teorias de desenvolvimento, como: Freud, Erickson, Piaget, etc. Mostrando assim, que deve ser respeitado o ritmo de cada indivíduo, bem como, dar condições mínimas de aprendizagem. Tendo em vista que o estímulo que a criança recebe nos primeiros anos na escola será determinante para o processo de aquisição de conhecimento futuros, principalmente a alfabetização.
No caso da leitura e da escrita, como nos demais, terá maior sucesso no ensino dessas habilidades, a criança
que for estimulada desde cedo. De modo geral, entre o 5º e o 8º ano de vida, as crianças apresentam prontidão, para ler e escrever. No entanto há diferenças individuais entre elas, o que deve ser observado e trabalhado sem demasiadas exigências, porém auxiliar as crianças que necessitem.
Emília Ferreiro (2001) define como um processo, e que alfabetizar é construir conhecimento que tem início muito cedo e que não termina nunca. Este fato se constata no dia a dia de cada indivíduo, pois desde cedo convive com as mais numerosas formas de informações produzidas e interpretadas pelos adultos, nos mais variados contextos, ou seja, vê letreiros em cartazes, jornais, revistas, televisão, placas, etc. Para que a criança faça relação com a escrita que tem contato fora da escola e dentro é necessário apresentar todo tipo de material escrito que for possível para a sala de aula. Como nos afirma Emília Ferreiro. “Em cada classe de alfabetização deve haver um “canto ou área de leitura” onde se encontrem não só livros bem editados e bem ilustrados, como qualquer material que contenha escrita...” (FERREIRO, 2001, p.33)
Assim já vai tendo certas hipóteses a respeito do que seja ler e escrever. Vê-se então que a criança não espera chegar à idade certa ou que alguém se disponibilize a ensiná-la, mas vai aos poucos, naturalmente se alfabetizando. Com isso não se pretende dispensar o professor, mas sim alertá-lo para que antes de iniciar o seu trabalho conheça a sua turma e o nível que cada um se encontra para assim desenvolver atividades que ajudem seus alunos a se desenvolverem.
Emilia Ferreiro, (1999) buscou na teoria de Piaget a explicação sobre o desenvolvimento da criança no ato de ler e escrever, do ponto de vista cognitivo. Segundo ela toda criança passa por quatro fases até que seja alfabetizada: pré-silábica, somente joga as letras, sem conseguir relacioná-las com a língua falada; silábica, interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada letra; silábico-alfabética mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas; alfabética, domina o valor das letras e sílabas.
Com relação às crianças provenientes do meio que não proporciona este contato com a leitura e a escrita, será um tanto mais complexo este processo. Com certeza se fará necessário um pouco mais de estimulação, mostrando-lhe a sua importância, já que até então as pessoas com as quais convive não o fizeram, pois estas muitas vezes não são alfabetizadas ou não usam a leitura e a escrita para a sua sobrevivência, ou melhor, no seu trabalho, não dando assim o seu devido valor. Relacionado a isto, está à questão da necessidade de partir do contexto em que a criança está inserida para que a aprendizagem possa ter significado. O professor deve propor também atividades que favoreçam a reflexão da criança sobre a escrita, porque é pensando que ela aprende.
Como nos fala Emília Ferreiro, a educação infantil depara-se com duas situações, que podem ser chamadas de extremas. São elas: educação infantil vista somente como espaço de recreação ou como local de alfabetização forçada.

A primeira é entendida como espaço de lazer, brinquedo, alimentação, sem nenhuma preocupação pedagógica, voltada somente para cuidá-lo. Cuidar das crianças para que os pais pudessem trabalhar, tendo um local seguro onde pudessem deixar seus filhos. Já na segunda a educação infantil, principalmente no período da pré-escola tem como principal objetivo à alfabetização, chamada de alfabetização forçada onde o aluno deve realizar diversas atividades visando à alfabetização. Atividades estas, muitas vezes desconectadas da sua vida, mecânica, onde a criança aprende somente através da memorização de letras e sílabas.
Por outro, lado hoje está se buscando novas concepções que vêem a pré-escola como um ambiente que deve permitir a criança o seu desenvolvimento integral, ou seja, físico, social, intelectual e emocional.

Neste sentido, cabe a pré-escola além de trabalhar a parte de recreação e socialização, contribuir para o desenvolvimento cognitivo da criança, preparando-a para a aprendizagem da linguagem oral e escrita e dos outros conhecimentos necessários para o seu desenvolvimento integral. Não priorizando nenhum dos aspectos, mas colocando cada um com sua devida importância.
Surge então a pergunta que está tão presente no dia a dia de pais e professores de crianças pertencentes a esta faixa etária. A pré-escola deve ou não alfabetizar? Com certeza a resposta deve ser dada pela própria criança, pois a alfabetização vai depender do ritmo de vida de cada criança, para a alfabetização. Sendo que a alfabetização em si é um processo natural, um caminho diverso para cada criança, no entanto, a estimulação e a mediação são de suma importância.
Estas deverão ser feitas pelos pais, professores e demais pessoas que a circundam, oferecendo oportunidades para que ela faça as suas próprias interpretações sobre o mundo em que vive. Como processo natural não deverá ser precipitado, mas muito menos negado. Deve ser sim estimulado de forma prazerosa.

Por isso, as salas de pré-escola e classes iniciais devem ser de fato um ambiente alfabetizador, onde são oferecidos e trabalhados todos os tipos de materiais para que, através da observação, comparação, classificação e reflexão, as crianças possam descobrir a importância da leitura e da escrita, procurando se apropriar dela, e assim, construindo seu conhecimento. Desta forma, a criança terá maior facilidade em toda a sua vida escolar, assimilando os conteúdos e interagindo com o contexto educacional.
A aprendizagem na educação infantil deve partir de uma proposta pedagógica, que tenha como princípio o respeito ao contexto do qual a criança participa, bem como, valorizando o saber, o conhecimento que elas trazem para a escola.

Os profissionais que trabalham com a pré-escola devem se conscientizar que o seu trabalho não é só preparar estas crianças para as séries iniciais do ensino fundamental, mas para o resto da vida, pois é no período de zero a seis anos que são lançadas as bases para todas as aprendizagens futuras.
Uma função importante da pré-escola é a grande contribuição para o processo de alfabetização, onde é proposta diariamente atividade em que ela possa desenvolver o uso da leitura e da escrita, mesmo que ainda não haja um domínio formal e sistematizado dos códigos lingüísticos, mas que serve para o desenvolvimento do pensamento da criança. Porém o professor não deverá exigir tampouco impedir que o aluno se alfabetize. Mas sim, dar condições para que a criança aprenda, para que ela própria construa o seu conhecimento, desenvolvendo todas as suas potencialidades, num processo natural e gradativo, levando em consideração o ritmo próprio da criança e suas condições cognitivas. As atividades devem ser ricas, vivas e dinâmicas que trabalhem também o aspecto afetivo.

A pré-escola não deve ter como única finalidade a leitura e a escrita, mas considerar a alfabetização como leitura da realidade que a cerca, pois desta forma, ela pode contribuir para desenvolver a capacidade da criança de ver as coisas, interpretar uma história, um fato, distinguir cores, formas, tamanhos, através de símbolos não escritos, como dobraduras, maquetes, desenhos, pinturas, modelagens, etc.

O importante será a estimulação na criança para essa pré-leitura e pré-escrita. Pois permitirá a criança aprender, oferecendo-lhe múltiplas oportunidades para interagir com a língua escrita, permitindo-lhe assistir a atos de leitura e escrita realizada pelo professor dando-lhe assim a oportunidade de escutar a leitura em voz alta, despertando o interesse e a curiosidade, para ela também poder ler para o professor, escrever e desenhar.

Desde muito cedo a criança tem contato com a leitura e a escrita, pois está cercada de placas, jornais, revistas, dentre outros. Cabe ao professor trazer esta experiência para a sala de aula e transformá-la numa experiência coletiva. O papel da pré-escola é o de fazer a criança compreender o que é a escrita e as suas funções e não apenas fazê-la compreender os escritos, ou seja, codificar e decodificar.
É preciso também o trabalho com as diversas formas de linguagem, dramatização, artes, montagem de álbuns, acesso a revistas, confecções de bilhetes, permitindo que as crianças vivenciem todas as formas de linguagem utilizadas pela sociedade, permitindo-lhes aprendê-las e usá-las para se expressar.

Outra função muito importante na pré-escola é o brincar, pois a criança necessita de ação, de movimento. A escola então deve organizar a energia do aluno de forma produtiva através das atividades, jogos e brincadeiras que envolvam a um só tempo, ação, aprendizagem e prazer. É através das brincadeiras que a criança irá compreender as pessoas, as situações e as experiências, aprendendo a conhecer a si própria, os outros e o mundo que a cerca. Organizando suas brincadeiras ela irá interagir com os colegas e disso resultará a aprendizagem.
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Fonte: http://topicosemautismoeinclusao.blogspot.com/2007/07/alfabetizar-na-pr-escola-sim-ou-no-e.html



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