Autismo


Este texto eu escrevi pensando em todas as famílias que, como a minha, tem um filho autista, mas não pode dispor de um tratamento terapêutico, ou por que simplesmente não estão disponíveis em sua localidade de residência ou porque lhes falta condições financeiras para arcar com tais despesas.
Que fique claro a todos que não tenho nem a pretensão, nem competência para me investir na qualidade de terapeuta, quero apenas, como mãe, passar um pouco do que aprendi e do que funcionou para minha filha.

                                                 Receita Caseira

Ao longo dos anos podemos perceber que os métodos terapêuticos aplicados por profissionais especializados, embora consumam por vezes um tempo sem fim, merecem crédito e surtem efeitos positivos no desenvolvimento de crianças autistas como a minha.
Mas, infelizmente, elas são caras, demoradas e muito poucos podem pagar.  Embora existam movimentos de pais e associações, companheiros de luta, tentando a aprovação de legislação que garanta esses e outros tipos de benefícios de forma gratuita às crianças diagnosticadas com autismo e seus familiares, o fato é que ainda temos que nos virar sozinhos.
Pensando nisso resolvi registrar algumas estratégias que ao longo dos anos aprendi com os terapeutas e o que deu resultado positivo com a minha filha, todavia tenham sempre em mente que nossos filhos são seres personalíssimos e o que deu certo para a minha pode não funcionar para o seu. Dito isso, se você quiser tentar, ai vai:

Reduzindo a ansiedade
Desde muito pequena a minha filha não recebia bem a mudança de rotina, de ambiente, de pessoas. Ela ficava muito agitada, se desestabilizava, chorava, gritava; era uma luta. Então eu fui aconselhada a antecipar para ela toda rotina diária para que ela soubesse previamente o que iria ocorrer ao longo do dia e assim, afastando o elemento surpresa, aplacar a ansiedade, pois ela teria a segurança de se estruturar num rotina que lhe era conhecida.
Na prática esta estratégia consistia em fotografar toda a rotina diária e pela manhã, ao acordar montar com ela uma sequência na qual se visualizava por meio de fotos de tudo que estava previsto para ela naquele dia. Por exemplo:
·  Eu começava mostrando uma foto dela acordando e prendíamos, com imã, no quadro de metal que coloquei no quarto dela. (você pode usar aqueles porta retratos de plástico em que as fotos ficam uma embaixo da outra ou até mesmo utilizar esses álbuns que a gente ganha quando revela fotos. Se você não tiver como fotografar, recorte de revistas cenas que se identifiquem com a que ele vai realizar);
·  Depois vinha a foto do café da manhã;
·   Se fosse dia de natação, uma foto dela nadando;
· E assim por diante, almoçando, indo para escola, voltando para casa, jantando, brincando, vendo TV e indo dormir. (essa é uma ilustração de uma rotina).
O importante é relembrar sempre que possível ao longo do dia a rotina que irá acontecer. A antecipação e a visualização concreta foi um santo remédio para acalmar e estruturar o comportamento da minha filha.
Agora, atenção com o efeito rebote. Se eu estabelecia com ela a rotina e por um motivo qualquer não acontecia, o descontrole comportamental era imediato porque toda a segurança de conhecer previamente o que iria acontecer ia por terra e a ansiedade vinha com força total.
Até hoje, passados dez anos, quando não precisamos mais dessa estratégia, minha filha continua a não aceitar bem a mudança de rotina embora controle melhor suas reações.

Ensinando códigos sociais
Para minha filha sempre foi muito difícil assimilar os códigos sociais, o comportamento que era esperado para cada evento, a palavra certa a ser dita em cada ocasião. Eu aprendi que para ela era difícil, se não impossível, interiorizar isso de forma intuitiva, simplesmente não tinha a menor noção do que socialmente era esperado dela. Então fui instruída a ensiná-la a decorar, para cada situação (festa, cinema, apresentação de escola, etc.), como ela tinha que agir e o que dizer (obrigada, parabéns, por favor, desculpe, me empresta, posso brincar, etc.). E como fazer isso? Nas brincadeiras, de uma forma lúdica, mas repetitiva até ela decorar a situação.
Por exemplo, eu sentava com ela e brincava de casinha onde a boneca, que tinha o nome dela, fazia aniversário e estava recebendo os amigos... Cumprimentos, agradecimentos, interação com os amiguinhos, ainda que esse fosse um ponto delicado para ela, mas o segredo estava em repetir, repetir, em diversas oportunidades, até ela decorar.
Não vou enganar, era cansativo, desgastante, mas foi a única forma dela aprender os comportamentos sociais básicos. Hoje, olho para trás e vejo que comparativamente ela se tornou uma dama. É engraçado, muitas vezes minha filha tem a exata noção de que fez ou de que teve algum comportamento errado, olha para mim e diz “foi mal.” 

Estratégias específicas para festas e eventos sociais
Essa eu aprendi sozinha, na prática.
Quando minha filha era pequena eu costumava levá-la a qualquer festa ou evento para os quais éramos convidados, ou porque eu pensava que assim estaria ajudando a sua socialização ou apenas pelo fato de me importar com o que os outros iriam pensar.
Com o tempo e o amadurecimento, tendo sempre a minha menina como prioridade, descobri que ela não fazia a menor questão de comparecer a tantas festas e que em vez de ajudar a sua socialização, eu a estava expondo a um sofrimento totalmente desnecessário. Então não só passei a selecionar ao máximo os eventos como também, sabendo que ela tinha um limite de tempo para exposição ao barulho, aos apelos visuais e a quantidade de pessoas, comecei a chegar às festas do meio para o final. Assim nós não deixávamos de ser atenciosos em relação ao convite, como também tínhamos a medida certa do que para minha filha era suportável e prazeroso.
Pense nisso, a prioridade deve ser sempre o conforto e bem estar do seu filho, mesmo porque se ele não tiver se sentindo bem, o evento também não será uma festa para você.
É certo que as terapias são inacessíveis para maioria de nós, mas também é fato que muita coisa pode ser feita por meio de estratégias caseiras, basta conhecer seu filho, se munir de tempo, paciência e amor, que a receita tem tudo para dar certo.
Então, mãos a obra!
Roberta Haude



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