O reencontro com meu filho após 6 anos, e novamente a separação...
Autismo

O reencontro com meu filho após 6 anos, e novamente a separação...


Para quem leu a postagem "Cultivar o jardim!", eu gostaria de contar mais um trecho dessa fase que eu descrevi:
Quando eu vim de Brasília para o nascimento da minha filha, existia uma alegria muito grande por eu estar novamente com meu filho.
No primeiro contato que meu filho teve com meu marido ele foi rejeitado prontamente pois ele não tolerou a maneira como eu me relacionava com meu filho, disse que eu o mimava muito, desconsiderando que estávamos eu e meu filho separados por seis anos.
E ainda tinha o agravante que meu filho tem um comportamento muito adulto para a idade dele, vive muito isolado e isto o faz parecer antipático, hoje eu sei que ele é Asperger.
Eu perdoei meu marido pois ele se desculpou um tempo depois, quando tentamos trazer minha enteada de 6 anos para morar conosco e não deu certo, depois de seis meses de tentativas frustradas ela teve que voltar para a casa de minha sogra.
Os motivos da impossibilidade da minha enteada ficar morando com a gente foram vários: o pai(meu marido) trabalhava de dia estudava a noite a semana toda e ela não admitia que tinha que ficar comigo.
Nesta época morávamos num apartamento e minha filha tinha 1 ano, e minha enteada era acostumada a brincar ao ar livre, pois morava em Planaltina-DF onde faz calor o ano todo e isso propiciava esta liberdade.
E sem falar que os ciúmes, da irmã mais nova e da nova esposa do seu pai (esta que vos escreve) neste caso começaram a ficar num grau insustentável até que tivemos que pedir ajuda profissional, ela começou a ter problemas sérios na escola, etc...E ela também achou que por ser uma cidade litorânea, onde morávamos na época, freqüentaria praia o ano todo, mas aqui no sul só temos praia nos tres meses de verão, o resto do ano é muito frio.
A escola dela solicitou acompanhamento psicológico e a psicóloga solicitou a participação do meu marido, só que ele trabalhava de dia e estudava a noite e não pôde dar a assistência que ela merecia por ter somente seis anos,então eu a acompanhei em todo o tratamento, mas por mais que meu marido tentasse ele não conseguia juntar-se a nós neste processo, então a psicóloga mandou ele escolher entre ele tratar dela ou levá-la de volta para minha sogra, pois sem a participação do pai o tratamento não poderia ser feito.
Resultado fui responsabilizada pela volta da minha enteada, pois como meu filho estava na mesma cidade e não freqüentava minha casa, presumiu-se que eu não apoiei a minha enteada para ficar por ciúmes, e o pior, como eu realmente tinha muita dificuldade com ela fui acusada de não permitir que ela se adapta-se.
Com isto o casamento ficou por um fio, resolvemos nos reconciliar e fizemos todos os pedidos de desculpas cabíveis, e estamos conseguindo manter nosso casamento pelo propósito de fazer nossa vida dar certo.
Até aí morávamos na mesma cidade, mas meu filho na casa da minha mãe, e nós em outra casa com a nossa filha.
Esta irmã foi muito esperada por meu filho.
Ele sempre dizia que queria ter uma irmã.
Passamos tres anos e meio na mesma cidade, cada um na sua casa, no entanto a relação com a minha mãe não era nada amistosa, e ficava cada dia pior pois minha filha ainda sem diagnóstico era comparada a mim o tempo inteiro, e nos tratavam como duas insuportaveis.
Quando veio o diagnóstico dela, procuramos tratamento na saúde pública e obviamente não encontramos, estávamos numa cidadezinha litorânea quase sem recurso.
Foi aí que veio a informação que a APAE da minha cidade natal, que fica 300Km de onde eu estava morando perto do meu filho.
Eu já conhecia a instituição e sabia que tinha uma tradição muito grande, que funciona como escola especial e é muito bem assistida pela sociedade local e era uma das poucas APAES do Brasil que havia conseguido fazer convênio com o SUS, e recebera 22 profissionais no seu quadro de funcionários.
É fantástico o trabalho desenvolvido nesta instituição.
Porém, eu e meu filho nos separamos novamente.
Foi muito pior que da primeira vez quando ele tinha 3 anos, nesta separação ele estava com 13 e precisava muito mais de mim, estávamos morando na mesma rua e nos víamos quase todo dia.

Quando veio o momento de decidir qual seria o tratamento da minha filha, eu tive a sensação de que estava optando por um dos dois, eu não desejo isso para ninguém no universo.
Meu filho não queria vir para esta cidade por causa do frio, ele passou sua infância aqui, disse que não gosta daqui e também por não querer sair da casa da avó.
Na hora que tomei a decisão meu filho ficou abalado, mas passado o primeiro impacto ele bravamente me incentivou e disse que nossa nova separação seria por uma causa justa, o tratamento da sua irmã tão querida, mas eu sei que ele sofre calado com nossa ausência.

Hoje nos comunicamos pela internet, e eu percebo que ele está cada dia mais fechado no seu próprio mundo, no seu quarto com seu computador, na sua "tática de auto isolamento", tática que foi desenvolvida por ele para obter êxito nos seus estudos quando reprovou na quinta série, porém a tática agora não é usada só na escola, mas em tempo integral.
Eu tenho 4 irmãos adolescentes(ao todo somos em 8 irmãos, e eu "A primogênita"), que são "tios-irmãos" do meu filho, e moram também, todos com minha mãe, e comparam meu filho como um senhor idoso, e dizem que ele fala como se tivesse lendo um texto ou um livro, meus irmãos ficam perguntando se ele algum dia vai ter amigos e sair de casa.
Eu converso muito com ele sobre isso, e nas últimas férias, no verão, que passamos um tempo junto, e já fazia 6 meses do diagnóstico da irmã dele, e com todas os meus estudos fiquei sabendo que ele tem síndrome de Ásperger, então expliquei tudo para ele, e percebi que ele acalmou o coração, pois ele queria saber porque não era igual as outras pessoas da idade dele.

A nossa mudança aconteceu em junho/2009, eu vim antes do meu marido, fique morando de favor na casa de um familiar, era final do semestre e meu marido cursava engenharia elétrica com bolsa integral do PROUNI e tinha compromisso com seu emprego.
No segundo semestre a empresa que ele trabalha o transferiu para a região onde iríamos morar, alugamos uma casa e ele veio morar conosco, só que aqui além de não ter o mesmo curso, a universidade ainda não tinha convênio com o PROUNI, então ele transferiu para um curso similar, mecatrônica, e tentamos pagar algumas matérias, mas isso arrasou com nossa vida financeira. Resultado, no início de 2010 ele resolveu trancar a faculdade e esta esperando o convênio com o PROUNI ser aprovado este ano, a bolsa pode ficar trancada por dois anos.

Minha família tentou me consolar dizendo que pelo menos desta vez não ficaríamos 4000 KM de distância, que desta vez seriam "SÓ" 300 KM, mas o fato é que vivemos longe dos nossos filhos mais velhos.
Eu e meu marido convivemos com esta ausência que dilacera a alma, com a culpa que tentamos desesperadamente não transferir para a nossa caçula, que enfrenta tudo isso como um verdadeiro anjo.
E temos mais dois anjos guerreiros que são a minha enteada que hoje ainda está com minha sogra agora no norte de Minas Gerais, e meu filho que mora com minha mãe no litoral.
E nós três nesta cidade serrana do sul do país, onde o frio já dá os ares de sua graça...
E faz muito, mas muito frio mesmo durante seis meses.
E eu que achei que nunca mais retornaria para a cidade onde nasci e passei os piores dias de minha vida, aqui estou escrevendo minha história... e aprendendo a me reconciliar com todas as coisas do céu e da terra!!!Como disse Massaharu Taniguchi fundador da Seicho-no-Ie, filosofia oriental que também já me ajudou muito!

Muito obrigada a todos que lêem meus relatos, e saibam que seus comentários são uma riqueza para mim, me dão o ânimo que necessito para enfrentar o isolamento e os desafios diários.

Abraço forte!
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