Todas as crianças dentro do espectro autístico apresentam alguma forma de particularidade sensorial. Assim como tudo o mais relacionado ao autismo, há uma grande variação no grau de intensidade e na forma das experiências sensoriais vividas por aqueles com autismo.
Algumas crianças são
hipersensíveis quanto à recepção de informações sensoriais. Por exemplo, crianças relatam serem capazes de ouvir conversas ou o som de móveis sendo arrastados em outros prédios. Outras crianças são tão sensíveis ao estímulo táctil (toque) que não toleram a sensação da etiqueta em suas camisetas. Por outro lado, algumas crianças aparentam ser
hiposensíveis a estímulos sensoriais, ou seja, são pouco sensíveis e necessitam de uma maior intensidade de estímulo para que este seja percebido. Como exemplo, algumas crianças buscam a sensação de intensa pressão ao serem massageadas ou ao serem firmemente enroladas em pesados cobertores. Pesquisadores com Judith Bluestone (Instituto HANDLE, em Seattle, EUA), apontam para a possibilidade da hiposensibilidade ser na verdade uma hipersensibilidade ao extremo, o que levaria a pessoa a bloquear totalmente uma determinada sensação.
Muitas crianças no espectro aparentam ter complexos padrões de sensibilidades sensoriais. Por exemplo, uma criança pode ser hipersensível a sons e cheiros, mas hiposensível ao toque. Em outros casos, as sensibilidades das crianças parecem mudar de um momento para o outro, ou dentro de períodos de dias ou semanas. Elas podem ser hipersensíveis à luz em um dia e parecer hiposensíveis ou não afetadas pela luz em um outro dia. A ciência de hoje ainda não consegue explicar completamente por que isto acontece.
Integração sensorial refere-se ao processo de organização cerebral para eficientemente processar a recepção de informação sensorial em uma representação coerente do mundo. As crianças neurotípicas aprendem a integrar seus sentidos nos primeiros anos. Elas o fazem através de interações com as pessoas próximas e através de brincadeiras exploratórias. Na verdade, toda e qualquer ação da criança resulta em informação sensorial para o cérebro, o que contribui para o processo de organização e integração. Quando você vê um bebê colocando objetos na boca ou batendo objetos no chão você está testemunhando os métodos naturais do cérebro para a integração sensorial. Quando sua criança de 4 anos pula na cama, roda em torno do próprio eixo até ficar tonta ou quer que você a segure de cabeça para baixo, ela está integrando seus sentidos. O sistema vestibular (que controla o equilíbrio) continua a amadurecer até a adolescência, o que explica o porquê dos adolescentes buscarem experiências intensas como as das montanhas-russas, enquanto que os adultos geralmente não as toleram fisicamente.
Crianças com autismo não são diferentes em relação a isto. Elas também recebem a informação sensorial que ajuda o cérebro a se organizar através de atividades como rodar, balançar, correr, pular, bater, tocar, mastigar, apertar, e cheirar! A diferença é que crianças com autismo geralmente necessitam fazer estas atividades por períodos maiores e de forma mais intensa do que outras crianças. Algumas delas também continuam a precisar destes tipos de estímulos engajando-se em comportamentos auto-estimulatórios que não seriam considerados “apropriados” para suas idades em nossa sociedade. Devido a comportamentos desta natureza, crianças com autismo são amplamente incompreendidas e, em alguns casos, maltratadas.
Abordagens comportamentais tradicionais ao autismo têm visto estas atividades de auto-estimulação sensorial como “ruins” ou “inapropriadas”, e buscam eliminá-las. Diversas estratégias foram utilizadas no passado para eliminar estes comportamentos, desde o amarrar as mãos das crianças em suas cadeiras até a “terapia” de eletrochoque. Versões mais modernas tendem a não ser tão extremas, apesar da filosofia continuar a ser a mesma, a de eliminar (ou pelo menos interromper e redirecionar) estes comportamentos em nome de uma “normalidade social” ou habilidade de se concentrar durante as aulas.
Nossa experiência , assim como conclusões de estudos recentes (ex: Hirstein et al, 2001), nos demonstra que as crianças com autismo necessitam deste estímulo sensorial para ajudá-las a organizar seus sentidos (devido às diferenças neurológicas discutidas na seção Ambiente), e que a interrupção forçada destas atividades de fato aumenta os níveis de estresse, reduz a integração sensorial e a habilidade da criança de se concentrar durante a aprendizagem.
A Inspirados pelo Autismo adota uma perspectiva diferente em relação a estas atividades, uma perspectiva que consideramos ser de respeito e apreciação pela função destas atividades, assim como o sincero prazer por compartilhar a atividade (como descrito na página Os Sentimentos). Pesquisas científicas recentes mostram que a técnica de "juntar-se" à criança nestas atividades promove maior interatividade social em crianças com autismo. Muitas das necessidades de integração sensorial de sua criança podem ser atendidas através de brincadeira intencional dentro de um quarto de brincar/quarto de trabalho. Profissionais especializados em terapias de integração sensorial podem orientar os pais em como auxiliar suas crianças durante as sessões de quarto. Entre as abordagens de terapias de integração sensorial e treinamento para a auto-regulação, citamos o Treinamento de Integração Auditiva (sigla AIT em inglês), exercícios da metodologia HANDLE, Fast ForWord, e Neurofeedback.
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