Autismo
Cultivar o jardim!
Diz um trecho de Mario Quintana que devemos cultivar o nosso jardim, e não correr atrás das borboletas, pois assim elas virão naturalmente.
Pois bem, o meu projeto é este: Cultivar meu próprio jardim, ou seja, aprender a cuidar de mim mesma.
Uma nova amiga que conheci a pouco por causa do blog me disse que o fato de descobrirmos esta situação somente nesta altura da vida é no mínimo constrangedor.
Mas o fato é que estou tão aliviada que nem me sinto constragida, é como se eu tivesse tomado posse da minha própria vida!!
Tomar posse.
E agora?
A minha primeira meta é acalmar minha cabeça, minha mente.
Várias vezes por dia eu sinto minha mente está indo embora.
A confusão mental é tão grande que eu temo me ausentar de vez.
Ansiedade.
Medo.
Falta de motivação.
Prostração.
É claro que o intuito de escrever este bolg não é criar um muro de lamentações particular, mas no momento eu preciso muito dividir estes momentos para que meu viver possa ficar mais leve.
Leveza e tranqüilidade são dois atributos que NUNCA fizeram parte da minha rotina.
Ontem eu terminei a leitura das 89 páginas que estão disponíveis para leitura no "Google Books" do livro
SÍNDROMES SILENCIOSAS: COMO RECONHECER AS DISFUNÇÕES PSICOLÓGICAS OCULTAS Por JOHN J. RATEY,CATHERINE JOHSON.
Encomendamos o livro, e em breve espero concluir minha leitura.
Neste início de leitura aprendi muito sobre a minha condição.
Fiquei impressionada com a narrativa que ia sempre de encontro com minhas vivências, inclusive eu havia revelado em uma publicação anterior sobre a maneira que eu havia encontrado para "sobreviver" dentro desta ignorância toda que foi minha vida até agora, que é o lema: Viver um dia de cada vez!"
E no livro o autor fala que este lema realmente ajuda muitas pessoas, mas que quem vive assim encontra dificuldade para vislumbrar algum futuro.
É exatamente o que mais me angustia, e meus projetos? E meus desejos?
Como vou ter minha independência se todas as noites eu preciso me livrar de QUALQUER expectativa
para diminuir a insegurança, o medo, a ansiedade...
A minha grande descoberta foi o nome do meu arquiinimigo, ele se chama Ruído Mental.
Sabem o que é ter vivido 38 anos com uma multidão gritando dentro da sua cabeça, é com se eu estivesse com um trio elétrico dentro de mim 24 horas por dia.
Os autores do livro descrevem perfeitamente o que este ruído é capaz de fazer com qualquer ser humano, elas fazem uma analogia entre o stress fisiológico e o stress mental que acontece com as pessoas que convivem com o ruído mental, e ele é comum a todas as sombras mentais, que são as formas mais brandas das patologias graves.
A pessoa portadora de doença mental grave se enquadra no diagnóstico e tratamento padrão existente, e nós portadores da sombra mental ou "forme frustre" como foi chamada antigamente recebe a sentença de PESSOA DIFÍCIL e se vê obrigada a viver dentro das regras pré estabelecidas ou mesmo tendo que seguir os famosos preceitos, ordens dadas como regra de conduta:
" A vida é assim mesmo!"
" Seja otimista!"
" Não tem bem que nunca termine, nem mal que nunca se acabe!"
E assim vai a infinidade de "incentivos" que recebemos durante toda a vida, só que por mais que nos esforcemos o nosso "mal" nunca se acaba!! A cabeça não para, a mente não acalma nunca e quanto mais tentamos seguir alguns destes lemas mais frustrados ficamos.
O que acontece com a gente que vive sem o diagnóstico é que somos enquadrados na categoria dos "pessimistas por opção", "pessoas difíceis", "negativos de plantão".
Para me livrar deste estigma, há uns 15 anos atrás eu procurei ajuda médica no sistema público de saúde e um ginecologista me prescreveu bromazepan 6mg, remédio ansiolítico de tarja preta, aí foi a derrota mesmo, vieram as tentativas de suicídio(foram 3 tentativas) e as maiores decepções da minha vida,foi neste período que deixei meu filho com minha família e fui embora para uma cidade que ficava no nordeste do país, quase 4.000 Km de distância da minha cidade de origem.
Sofri neste período mais do que sofri minha vida inteira.
Neste período minha avó me sugeriu por telefone que eu tomasse um remédio que o médico tinha prescrito para ela no desencarne do meu avô, era uma novidade o remédio, a tal de "fluoxetina", nem lembro como consegui receita para esta medicação, pois não é tarja preta mas é necessária a prescrição médica, e realmente fiquei muito bem com esta medicação, e resolvi me relacionar com pessoas legais, freqüentei um centro espírita onde eram seguidores de Allan Kardek, e comecei a investir numa vida nova, e a fluxetina me ajudou muito na melhora da disposição para viver.
Namorei uma pessoa, e eu tinha certeza que era para toda a vida, mas foi só mais um dos equívocos, no término do relacionamento eu voltei a tomar o bromazepam e veio a última tentativa de suicídio e a partida de mais uma das cidades de onde morei e saí praticamente sem nenhuma condição de retornar pelo enorme constrangimento que foi, mais uma vez, eu que era considerada uma pessoa tão equilibrada ter um comportamento tão inaceitável.
No final de três anos morando nesta capital nordestina, e com mais um término de um relacionamento amoroso frustrado, e como nesta época eu já freqüentava a doutrina espiritualista do Vale do Amanhecer, e o local onde se encontra o templo de origem é em Brasília no DF, foi para lá que eu fui "enviada", fui colocada num ônibus com uns poucos trocados no bolso, isso por caridade de pessoas conhecidas e familiares do meu relacionamento recém acabado, vocês tem noção da vergonha que eu estava sentindo?
Fui para a comunidade do Vale do Amanhecer que fica no interior de Planaltina-DF que é uma cidade satélite de Brasília, lá é desenvolvido por algumas pessoas um trabalho de acolhida para pessoas carentes, então eu fui muito bem recebida por pessoas extremamente acostumadas com todo o tipo de sofrimento humano de ordem emocional, estas pessoas me permitiram viver como eu realmente era, sem cobranças, sem críticas, e eu fui me fortalecendo.
Lá eu conheci meu marido, nós dois trabalhávamos, estava tudo indo bem.
Quando eu engravidei da minha filha, resolvemos aceitar o convite da minha mãe para voltar para o sul novamente, e como a nossa situação financeira no Vale era muito limitada, resolvemos aceitar, e eu finalmente ia conviver com meu filho novamente, era a felicidade completa.
Mas ao chegar, vieram todas as dificuldades de convivência com minha família, meu marido não me reconhecia mais, eu saí da redoma de proteção que era a comunidade do Vale onde todos eram semelhantes, para viver novamente no "mundo real"!
Aí meu mundo caiu definitivamente.
Foi o fim de toda a minha determinação em enfrentar o mundo, e viver.
No pós parto fui mais baixo ainda do que todas as outras vezes, o obstetra me receitou Triptanol eu tomei um comprimido e dormi dois dias direto, apavorada por me lambrar do bromazepan eu joguei fora o remédio e tentei enfrentar sozinha, mas não consegui, tentei a Fluoxetina que já tinha me ajudado mas só me deu mais sono, veio a Sertralina mais sono ainda, então parei tudo e resolvi me entregar de vez.
Até o diagnóstico da minha filha caçula.
Comecei a ver luz no fim do túnel novamente.
Bom, eu contei tudo isto pois senti muita vontade de ilustrar uma das passagens do livro no qual a autora fala das marcas que todas estas decepções nos causam:
"(...)O cérebro se desenvolve em resposta ao seu ambiente, o que significa que experiências vitais dolorosas deixam suas marcas. Existe um grande volume de provas indicando que o trauma psicológico altera a formação física do cérebro. Assim, um único episódio de depressão importante, em resposta a um acontecimento devastador, deixa cicatrizes não só na alma, mas também na massa cinzenta. Além disso alguns psiquiatras especulam que a capacidade de lidar com a tensão pode diminuir com a idade, assim como se cansam o joelhos do corredor de longa distância.(...)".
Vou continuar no projeto de recuperação do meu jardim, o primeiro passo são algumas mudanças nos hábitos alimentares, mas como eu tenho uma sombra não muito leve do Autismo, esta mudança está em prioridade, pórem como alterar minha rotina? Sinceramente eu tenho até rezado para conseguir.
E se tem uma coisa que eu não tenho hábito é rezar para pedir para Deus, eu prefiro estar na companhia Dele e dos Bons Espíritos, aliás Eles tem sido uma das poucas companhias que eu tenho tido,e por falar nos bons espíritos eu gostaria de contar para vocês que me adaptei muito bem na prática da doutrina do Vale do Amanhecer por ela ser ritualística, e esta é a única característica que a difere das doutrinas seguidoras de Kardek, não pensem em rituais de oferenda como os das religiões afro as quais eu tenho muito respeito, pois no Vale trabalhamos mediunicamente dentro da Lei Crística, somente com manipulação das energias, como tantas outras práticas: a imposição de mãos dos católicos, o johrei da igreja messiânica, o passe para os espíritas, etc.
Abraço e fiquem com Deus!
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