A criança em isolamento
Sabemos que uma das características de uma criança com autismo é o isolamento. Quando observamos essa criança, não parece que ela está nos pedindo ajuda ou mesmo querendo ser libertada desse lugar ou dessa situação.
É uma criança que ás vezes sorri tranqüila e totalmente absorta em seus pensamentos e porque não falar se divertindo. A criança se diverte e se acalma com os ismos, é nisso que acreditamos, as terapeutas Son Rise.
Raun Kaufman, primeira criança que estava autista e que sua história deu origem ao programa Son Rise diz, “autismo é uma desordem sócio relacional e não comportamental”. Mudar o comportamento da criança não a tornará menos autista. Estereotipias são comportamentos repetitivos, auto estimulantes que as crianças fazem por diversas razões. Os ismos nos remetem a duas noções, a criança o faz em isolamento e faz para nos afastar dela. Não porque não ama a mãe, pai e as pessoas e também não é porque não é amada por eles, mas elas são desafiadas a interagir e a controlar o ambiente.
Imagine-se numa sala de aula, onde ouvimos o barulho externo e assim mesmo conseguimos focar nossa atenção no professor e quase não percebemos os ruídos que vem de fora, como se eles diminuíssem o volume. Somos capazes de nos desligar e nos atentar ao que importa.
As crianças ouvem os sons com o mesmo volume, não filtram e não priorizam o “importante” e recebem uma enxurrada de estímulos sensoriais, parecem não nos ouvir, não prestam atenção, na verdade as crianças fazem com o tato, ouvido e olfato tornando-as sobrecarregadas e confusas.
E quanto tudo está confuso, o mais difícil para a criança com autismo é a interação social, é interagir com os humanos. O que elas tentam é criar a previsibilidade num mundo tão previsível.
E é muito difícil criar algo assim… E buscando o controle, fazem algo previsível para elas, algo que as acalmem imediatamente, balançam as mãos perto dos olhos, se balançam para frente e para trás, pulam e gritam sorrindo, giram rodas de carros, enfileiram objetos e tantos outros movimentos repetitivos ou atividades rígidas ou rituais pré definidos.
Outra luta de nossas crianças é a difícil habilidade de fazer amigos. E será que isso é ensinado por nós adultos? Só para refletir.
Na prática observo e concordo inteiramente com Raun quando diz que para fazer amigos é compartilhar dos mesmos interesses e as vezes fazemos algo para agradar o outro mesmo quando não queremos porque é muito bom ver o outro feliz.
Seu filho não amará tudo o que você o ensinar mas poderá estar envolvido com você e tão interessado que investirá em você.
E se não mudarmos nosso olhar em relação a isso, se não aceitarmos a criança como ela está naquele momento e se não nos juntarmos a ela com uma atitude de apreciação pelo que faz e compreensão, estaremos o tempo todo a impedindo de se organizar. A mensagem que aparecerá assim “Pare de fazer o que quer e faça o que eu quero”.
Amar a criança por inteiro é amar e apreciar o que ela faz com a certeza que faz o melhor que ela pode. E podemos ajudá-las a passar por isso de uma forma lúdica e dinâmica, nos juntando no isolamento, esperando o sinal verde da interação, daí para a fase interessada e altamente conectada.
Nesse precioso momento que a criança se abre, podemos solicitar (metas, de contato visual, linguagem…), pois está preparada e motivada para aprender.
Sonia Falcão
Terapeuta Ocupacional
Fonte: texto adaptado de um vídeo do site: inspiradospeloautismo.com.br
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