Em média, somos mais altos e mais musculosos  do que as mulheres. Característico da maioria dos mamíferos, esse  dimorfismo sexual é evidência indiscutível da seleção natural resultante  da competição milenar entre os machos pela posse das fêmeas, sempre  interessadas em se acasalar com os mais poderosos, capazes de proteger  suas proles.
 Nos últimos 50 anos, os neurocientistas têm demonstrado que o  dimorfismo na espécie humana não se restringe à aparência física, mas  está presente na configuração do cérebro.
 Apesar de variações individuais, o cérebro masculino é cerca de 9%  maior do que o feminino, graças às dimensões da substância branca, uma  vez que a quantidade de massa cinzenta (associada às funções cognitivas  superiores) é semelhante em ambos os sexos. Por outro lado, o corpo  caloso, estrutura que estabelece a conexão entre os hemisférios  cerebrais direito e esquerdo, é proporcionalmente mais desenvolvido nas  mulheres.
 Os neurônios das mulheres parecem formar maior número de conexões  (sinapses), essenciais do ponto de vista funcional, mas os homens têm em  média 10 milhões a 20 milhões de neurônios a mais, e eles se encontram  mais densamente empacotados na maior parte dos centros cerebrais.
 Antes que você, leitora feminista, tenha um ataque de nervos, vamos  deixar claro que, até hoje, nenhum estudo científico conseguiu  demonstrar superioridade dos quocientes médios de inteligência em  qualquer dos sexos.
 Tomadas em conjunto, essas informações apenas explicam porque nós  demonstramos mais habilidade na realização de tarefas restritas a um  único hemisfério cerebral, como interpretar mapas geográficos, encontrar  saídas em labirintos, lidar com máquinas, ao passo que elas levam  vantagem em atividades que se beneficiam das conexões entre os dois  lados do cérebro: interpretação de emoções alheias, sensibilidade  social, fluência verbal.
 Enquanto as áreas cerebrais controladoras da linguagem masculina  estão limitadas ao hemisfério cerebral esquerdo, a mulher utiliza os  dois hemisférios ao falar. Graças a essa versatilidade, as meninas  começam a falar mais cedo (e, segundo os maledicentes, não param mais) e  se saem melhor nas atividades escolares que privilegiam a linguagem.
 Comparadas com os meninos, elas nascem com uma diferença de maturação  cerebral de quatro semanas, diferença mantida de tal forma até a idade  escolar que o doutor José Salomão Schwartzman, um dos neuropediatras  brasileiros mais conceituados, considera erro grosseiro levar em conta  apenas o critério de idade para misturar crianças de ambos os sexos na  mesma sala de aula.
 Dados experimentais demonstram que essas características sexuais  estão ligadas a fatores biológicos. Ratos machos realizam com mais  facilidade os testes para encontrar saídas de labirintos, vantagem  perdida quando as fêmeas são tratadas com testosterona no período  neonatal. Na infância, os machos de diversas espécies de macacos  preferem brincar com carrinho, enquanto as fêmeas escolhem as bonecas.
 Em trabalho publicado em 2001, no qual bebês de um dia de vida foram  colocados diante da face de uma pessoa e de um objeto mecânico móvel,  ficou demonstrado que as meninas passam mais tempo a olhar para a face;  os meninos, para o objeto.
 O mecanismo responsável por essas diferenças corre por conta da  exposição do sistema nervoso à ação da testosterona produzida pelos  testículos durante a vida embrionária e neonatal. Meninas que nascem com  hiperplasia adrenal congênita, condição genética em que ocorre aumento  de produção de testosterona, exibem comportamento mais semelhante ao dos  meninos.
 É cada vez mais aceita na psicologia moderna a teoria da  Empatia-Sistematização (E-S), segundo a qual os indivíduos podem ser  classificados de acordo com sua maior habilidade de sistematizar ou  estabelecer empatia. Sistematizar é a capacidade de analisar um sistema  com o objetivo de prever seu o comportamento. Empatia é a capacidade de  identificar estados mentais alheios e de responder a eles com a emoção  mais apropriada.
 A teoria E-S propõe que as diferenças psicológicas entre os sexos  sejam definidas pelo diferencial entre as dimensões da empatia (E) e da  sistematização (S), uma vez que prever comportamentos e emoções alheias  não obedece às regras que regem sistemas mecânicos, nos quais a resposta  a um mesmo estímulo é sempre previsível. O tipo psicológico ES é  característico das mulheres; SE é mais encontrado nos homens.
 De acordo com a teoria, o processo de masculinização cerebral, levado  ao extremo, conduziria ao autismo, condição associada a comportamentos  repetitivos, obsessão por sistemas previsíveis como decorar horários de  trens e nomes de ruas, resistência às mudanças do ambiente, dificuldade  de compreender metáforas, precocidade para decifrar funcionamento de  máquinas e dificuldade de relacionamento afetivo.
 O dimorfismo cerebral explica por que as mulheres tantas vezes nos  surpreendem ao interpretar atitudes e prever intenções alheias e a  habilidade demonstrada por elas na execução de tarefas simultâneas como  dar banho nos filhos, falar ao telefone, avisar que a campainha está  tocando e pedir para desligar o forno, enquanto dez homens na sala,  assistindo ao futebol, perdem a concentração quando entra uma mulher  para perguntar quem vai encomendar a pizza.
Fonte: http://drauziovarella.com.br/sexualidade/mulheres-intuitivas-homens-autistas/