Seu filho foi diagnosticado com autismo, pronto! Uma bomba-relógio está armada ao seu lado, muita informação vem e vai e assim começa a sua corrida contra o tempo porque alguém falou ou se leu em algum lugar que só há uma oportunidade de “salvação”, que existe somente uma janela de oportunidade que se fecha com o passar do tempo, que é responsabilidade sua ser hábil, em tempo e eficiência para moldar corretamente o cérebro do seu filho.
É uma situação de extrema pressão em cima de uma familia já fragilizada e assim aparecem inúmeros “vendedores” de milagres, alguns bem intencionados porque querem realmente acreditar naqueles milagres e outros com o único intuíto de aproveitar-se da situação, e nesse embolar de informações de um mundo todo novo, muitas vezes o bom-senso, o raciocínio lógico e coerente se perdem. Nesse turbilhão cheio de pressa e de desespero estamos nós, os pais de crianças com autismo e assim nos tornamos “presa” fácil de ilusões e ilusionistas.
Autismo não é uma sentença, não deve ser visto assim, seu filho é uma criança que terá desafios, dificuldades, porém o diagnóstico de autismo não te entrega um “manual”, só coloca em evidência o que é verdade para todo ser humano, o futuro do seu filho é mais obviamente incerto.
Claro, existe uma perguntas que perturbam dia e noite, e agora? O que fazer?
Neste ponto, o importante é manter na mente e o foco que as terapias, os objeivos das terapias, os tratamentos devam obedecer, no mínimo, a lógica. Devam ser fundamentados no que é natural para uma criança, porque um autista de dois, três, quatro anos é em primeiro lugar uma criança e deve ter o direito à infância, uma infância que já será parcialmente prejudicada por sua síndrome e que não deve ser destruída por um tratamento sem nexo que não respeita as etapas do desenvolvimento, e o tratamento deve é ajudar que essa criança goze das delícias e descobrimentos da infância que são a fundação para aprendizados futuros e mais complexos, porém, sem uma sólida fundação, não há como construir um arranha-céus e talvez, nem mesmo sustentar uma casa de um só pavimento. Com isso, vale repetir que a criança autista deve ser vista como criança acima de qualquer diagnóstico.
Existem muitos mitos acerca do cérebro humano e como seu desenvolvimento acontece e isso leva as pessoas a acreditarem que o cérebro é como um amontoado de argila que se pode moldar ao invés de encará-lo como um órgão desenvolvido pela natureza que é programado por milhões de anos de evolução, este mito é sustentado pelas publicações científicas que parecem publicar manuais de como ter cérebros melhores.
Com uma cultura encantada com a ciência, nós pegamos o pouquíssimo que se sabe sobre o funcionamento do cérebro e extrapolamos ao tentar explicar os vários aspectos do comportamento humano.
O que se sabe ao certo é que a pontuação nos testes de QI nada tem a ver com felicidade, competência e sucesso na vida.
De acordo com a Teoria de Inteligências Múltiplas de Howard Gardner nós temos sete tipos de inteligência: lógica/matemática, lingüística, visual/espacial, cinestética corporal, musical, interpessoal e intrapessoal.
Porém, na educação formal somente são enfatizadas as inteligências lógica e lingüística.
O Dr Daniel Goleman, autor do livro Inteligência Emocional, coloca as emoções no centro da aptidão para viver a vida de forma inteligente. Ele mostra que quando pessoas com QI alto não sucedem tão bem na vida e pessoas com um QI modesto se saem muito bem, o fator decisivo é a “inteligência emocional”. Isto inclue auto-controle, entusiasmo e persistência, e a habilidade de auto-motivação.
Porém, no autismo, um dos pontos chaves da dificuldade de desenvolvimento está justamente a cerca da “inteligência emocional” em todos, ou somente em alguns aspectos. As nossas crianças têm como desafio a motivação, a persistência, o auto-controle, a curiosidade.
O corpo, pensamentos e emoções estão intimamente unidos através de redes neuroniais complexas e funcionam como uma unidade para melhorar o nosso saber.
As pesquisas na neurociência estão ajudando a explicar como e porque um bom desenvolvimento emocional é essencial para entender relacionamentos, pensamento lógico, imaginação, criatividade e até a saúde do corpo.
Daniel Gelernter, cientista da computação, é enfático neste ponto: “Emoções não são uma forma de pensamento, não são uma forma adicional de pensamento, não são um bônus cognitivo, mas são fundamentais ao pensamento”.
Por tudo isso, focar a aprendizagem na área acadêmica além de ser fora da problemática central do autismo, dá a impressão às crianças que o aprendizado é uma tarefa ao invés de ser algo que vem naturalmente da curiosidade e da exploração.
É mais produtivo ajudar as crianças a fazerem conexões físicas e mentais através de brincadeiras que promovam a auto-regulação, e a infância está repleta destas brincadeiras, do que enfatizar informações pontuais específicas.
Especialistas em desenvolvimento concordam que o único fator que optimiza o potêncial intelectual da criança é um relacionamento seguro e de confiança com seus pais e cuidadores. O tempo gasto com chamegos, brincadeiras, atenção total e uma comunicação consciente com a criança estabelece uma relação segura e de respeito que é a base da pirâmide do desenvolvimento infantil.
Tudo isso quer dizer que para qualquer criança, seja ela de desenvolvimento típico ou com desafios, o melhor começo que pode ser dado em direção ao seu desenvolvimento pleno é a satisfação nos seus relacionamentos, para isso é preciso um raio-X do que está inadequado para que esse relacionamento tenha uma fluência de troca entre a criança e as pessoas que a cercam.