Diversas atividades acontecem em Manaus durante a  Semana de Conscientização sobre o Autismo e, pela primeira vez, os  eventos são abertos para toda a sociedade.
                               Manaus - Há três anos e meio, a funcionária  pública federal, Vera Barbato, ‘perdeu o chão’ com o diagnóstico de  autismo realizado por uma neuropediatra para explicar o fato da filha,  na época, com dois anos e meio de idade, não interagir em sala de aula.  “O primeiro choque foi a forma como ela nos contou, sem nenhum tato ou  sensibilidade”, lembra.
 Com a certeza da patologia e a falta de  profissionais especializados em Manaus, segundo Barbato, a solução foi  ir para São Paulo, onde Maria Clara foi submetida a uma equipe  interdisciplinar.
 “No início foi muito difícil. Saímos  perguntando de amigos e até de desconhecidos sobre onde poderíamos obter  auxílio especializado”, conta.
 Atualmente com seis anos de  idade, Maria Clara, mesmo não apresentando problemas no aparelho  fonador, não sente vontade de falar e evita contato físico e visual com  as pessoas.
 A funcionária pública conta que até o primeiro ano de  vida, a filha não apresentava nenhuma característica do autismo e se  comportava como as outras crianças.
 “Começamos a notar a perda do vocabulário que ela tinha”, disse.
 O  autismo trata-se de uma desordem na qual uma criança jovem não pode  desenvolver relações sociais normais, se comporta de modo compulsivo e  ritualista, e geralmente não desenvolve inteligência normal.
 Estudando  no Colégio Dom Bosco, há três anos, a pequena atualmente vem  mergulhando no universo das palavras. Com a ajuda de uma mediadora  (profissional que a acompanha dentro de sala de aula) Maria Clara tem a  possibilidade de estudar em uma escola convencional, conta a mãe.
 “Nossa  diretriz é a inclusão. Cabe à mediadora repetir a ela pausadamente  todas as informações emitidas pela professora para que ela possa  acompanhar”, explica.
 Segundo Vera, a filha precisa apenas de mais tempo e de frases curtas para compreender as coisas.
 Acompanhada  por psicólogo, fonoaudiólogo, professor de educação física,  musicoterapeuta e mediadora, Maria Clara, é descrita pela mãe como uma  criança feliz, carinhosa e meiga.
 “Ela é uma criança que está crescendo em um ritmo diferente, o ritmo dela”, afirmou.
 Pedagoga  e mãe de Ulisses, de sete anos de idade, Ana Maria Nascimento, conta  que também passou por dificuldades até obter o diagnóstico de autismo.
 “Passamos  por diversos profissionais. Até uma doença degenerativa chegou a ser  cogitada, mas em Fortaleza ele foi diagnosticado”, disse.
 Ao ser questionada sobre a aceitação, a mãe, com voz doce e otimista afirma que ela e o marido encararam o desafio muito bem.
 “Ele  é autista clássico não-verbal, mas está conosco. Se tivesse sido  confirmada a doença degenerativa, ele não teria muito tempo de vida”,  explica.
 Após o diagnóstico, a família morou durante um ano e  oito meses no Ceará, onde Ulisses recebeu todo o acompanhamento  necessário na Casa da Esperança.
 “Durante este período, ele era  acompanhado por profissionais durante o dia e estudava à tarde. Até a  agressividade dele ficou para trás”, lembra.
 Ao retornar a  Manaus, a ausência de atendimento a autistas na rede estadual, segundo  Ana, foi um baque para o orçamento familiar.
 “É sacrificado, mas  precisamos arcar com o acompanhamento particular”, conta. De acordo com a  mãe, o preconceito também é um desafio a ser vencido pelas famílias de  quem tem o transtorno.
 “Meu filho foi rejeitado em 26 escolas  particulares por ser autista. Uma vez levei ele ao hospital e a mãe de  uma outra criança chegou a chamá-lo de monstrinho só porque ele agiu de  maneira diferente”, desabafa.
 Ulisses atualmente estuda em uma  escola pequena, no Bairro da Paz, zona centro-oeste, e conta com a ajuda  de uma mediadora (paga pela família) para se comunicar por linguagem de  sinais.
 Recursos
 Segundo Ana Maria  Nascimento, convidada para coordenar a implantação do Centro Municipal  de Atenção Integrada à Pessoa com Autismo, da Prefeitura de Manaus, no  futuro famílias e autistas terão a oportunidade de contar com  atendimento especializado, em Manaus.
 “Com uma projeção de até 70  vagas, o centro, será implantado ao lado da Fundação Allan Kardec, na  Avenida Mário Ypiranga, e contará com profissionais especializados nas  áreas de psicologia, fonoaudiologia, entre outras”, ressaltou.
 O  centro, que atualmente aguarda as reformas necessárias para a promoção  da acessibilidade, segundo Nascimento, será integrado a Secretaria  Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (Semasdh), Secretaria  Municipal de Educação (Semed) e a Secretaria Municipal de Saúde  (Semsa).
 Para o presidente da Associação de Amigos dos Autistas  Amazonas (AMA), Edmando Albuquerque, que há sete anos oferece  atendimento pedagógico e psicossocial a autistas, um dos maiores  desafios para os portadores do transtorno é a aceitação da família.
 “A família precisa entender que o autista é inteligente, mas precisa de acompanhamento integral”, disse.
 A AMA oferece, atualmente, 24 atividades de vivência a 40 autistas de nível profundo, severo e grave, a partir de seis anos.