Nos últimos tempos, o tema da inclusão tem estado presente nas pautas de governos, ONGs, grupos de educadores e da sociedade em geral. Inicialmente, ao recorrer à definição de inclusão contida no dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, encontra-se; “abranger, compreender, fazer parte”.
Deste modo, é preciso compreender a complexidade do processo de inclusão escolar, e entender que incluir na escola os excluídos, não é apenas cumprir a lei e oferecer vagas aos diferentes colocando-os no mesmo espaço com os chamados de iguais, é compreender que um projeto dessa natureza demanda muito investimento e envolvimento de todos, principalmente dos órgãos governamentais.
Mas, o que é a escola? Ainda segundo o mesmo dicionário, “escola é o estabelecimento público ou privado onde se ministra, sistematicamente, ensino coletivo”.
Será que coletivo significa igual para todos? Partindo desse pressuposto, e entendendo a escola como sendo uma sociedade menor incluída numa sociedade maior, e que, portanto, opera com uma diversidade humana, a escola deveria ser o espaço para construção e sistematização do conhecimento historicamente produzido pelo homem, próprio para os diferentes, para a diversidade.
Nesse contexto e diante dessas circunstancias ser educador é um desafio, mas, sobretudo, um privilégio. Educar em períodos de turbulência e revolução na sociedade exige muitas habilidades do educador como sensibilidade, flexibilidade, visão contemporânea, interação, além da capacidade e disponibilidade para o trabalho coletivo.
Ao longo da história, a profissão docente vem sendo pautada por um caminho que oscila entre modelos que levam em conta conhecimentos fundamentais e modelos práticos que são considerados relevantes como os métodos e as técnicas.
No contexto atual, ter o domínio e a compreensão ampla do processo de ensinar e aprender são aspectos fundamentais do conhecimento pedagógico que fazem parte da construção do conhecimento do professor. Mas ainda, é extremamente relevante considerar que a trajetória de vida tanto pessoal como profissional, as crenças e a concepção de educação, mundo e infância, são fatores decisivos e que influenciam o fazer pedagógico cotidianamente.
Isso leva, na verdade, o educador a preocupar-se não somente com o que ensinar, por que ensinar, a quem ensinar e como ensinar. Mas compreender que nesse processo aquele que ensina está também incluído no processo de construção do conhecimento numa dialética constante e ininterrupta. A construção do papel do professor é, portanto, algo que acontece coletivamente na prática em sala de aula e no exercício da atuação cotidiana da instituição escolar.
Sendo assim, como a sociedade e os alunos, também os professores são afetados por essa necessidade de constante atualização de conhecimentos e competências, fazendo-se necessário organizar-se de modo que isso seja possível, ou que tenham oportunidades para aperfeiçoarem sua arte de ensinar.
Partindo deste pressuposto, a formação do professor é elemento essencial para o desenvolvimento da cultura.
Seu campo de atuação profissional é, portanto, o conjunto de conhecimento de saberes adquiridos no exercício do magistério, onde foi construído em sua formação inicial, devendo ser ampliado nas ações de formação em serviço das quais participa, na busca individual de novas ações necessárias para sua formação tanto profissional como pessoal.
O professor é um profissional que trabalha com a diversidade, tendo a responsabilidade de desenvolver com êxito as aprendizagens nas múltiplas capacidades dos alunos, e não apenas à transmissão de conhecimento, implicando a atuação do profissional, não meramente técnico, mas também intelectual e político.
Diante do exposto, considerando a inclusão escolar de crianças com deficiência(s) e sabendo-se que essa inclusão visa reverter o percurso de exclusão de qualquer natureza, cabe mais uma vez ao professor procurar enriquecer seus conhecimentos a respeito deste assunto tornando-se capaz de beneficiá-los efetivamente na aprendizagem.
Assim sendo, é fundamental que o trabalho em sala de aula seja respaldado por uma enorme gama de informações e explicações acerca do comportamento, limitações e necessidades dessas crianças. Nesse sentido, a Neurociência traz importantes contribuições, esclarecendo como o cérebro se desenvolve e sua estreita relação com a aprendizagem, e como esta se comporta nos transtornos mentais, contribuindo para mudanças práticas e para melhoria do desempenho e evolução dos alunos.
Compreender o funcionamento cerebral é uma tarefa de extrema responsabilidade e importância, já que o professor, mais do que intervir quando este não funciona bem, contribui para a organização do sistema nervoso do aprendiz.
É necessário que o professor busque novas alternativas para se fortalecer dentro desse novo quadro, de forma que ele possa constituir e interpretar sua prática, não de maneira ingênua, mas “comprometida” com a direção do desenvolvimento do processo de inclusão. Entendendo a palavra comprometida como implicada, ou seja, que a atuação do professor influencia positivamente nas possibilidades de cada aluno se este respeita as singularidades existentes dentro de sua sala de aula.
Dentro deste contexto, ao tomar decisões e optar por determinados caminhos e procedimentos para resolver conflitos, o professor faz mais do que escolher uma forma de ação. Ele considera e avalia as diferentes hipóteses, estabelecendo critérios para a melhor opção pensando sempre de modo flexível a prática pedagógica.
Para tanto, e imprescindível que o professor esteja preparado para enfrentar as diversas situações que irão surgir durante o processo educacional, pensando e analisando suas crenças, valores e teorias a respeito do processo ensino-aprendizagem, principalmente junto às crianças com necessidades especiais, o que lhe possibilitará reestruturar seu pensamento alicerçado numa base sólida de conhecimentos.
Dessa forma é preciso que os professores reflitam sobre sua própria prática, e dentro dessa reflexão, possam discutir o motivo pelo qual as diferenças têm sido pouco valorizadas no espaço escolar.
É necessário acreditar na escola inclusiva, ter uma visão de que a inclusão não só aceita, mas valoriza a diferença, porque entende que é na diferença que as crianças crescem, se afirmam e se constituem.
Referências
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FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1997.
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VOIVODIC, M. A. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.