Composto Bisfenol A, presente em algumas mamadeiras e outros objetos plásticos muito utilizados para a alimentação infantil, pode causar problemas irreversíveis no desenvolvimento nervoso, cognitivo e comportamental da criança.
Quando os pais cuidam da alimentação dos filhos, escolhendo nas prateleiras do mercado produtos de qualidade e saudáveis ou, ainda, quando servem a mamadeira prestando atenção a todos os cuidados para garantir a higiene e saúde das crianças, eles estão total-mente seguros, certo? Nem tanto. Uma subs-tância presente em objetos de plástico, como algumas embalagens de alimentos, garrafas de água mineral, potes de armazenamento e, até mesmo, nas singelas mamadeiras, têm sido apontada por médicos do mundo todo
como um perigo para o desenvolvimento infantil. Trata-se do Bisfenol A, elemento chave na fabricação de policarbonato e resinas epóxi, materiais que fazem parte da elaboração de muitos objetos empregados no dia a dia de todas as famílias. O composto, usado para deixar o plástico transparente mais maleável e resistente a rachaduras, pode trazer consequências graves para os seres humanos, tais como alterações no sistema nervoso do bebê, especialmente as que dizem respeito à função da glândula tireóide e ao crescimento
do cérebro, além de deficiências em seu de-senvolvimento cognitivo e comportamental, como hiperatividade e agressividade.
Mas não é só isso:
De acordo com pesquisas internacionais, muitos outros transtornos característicos da adolescência e vida adulta podem ter a substância como facilitadora. Prova disso é que um estudo publicado pelo National Ins-titute of Environmental Health Science aponta a exposição ao Bisfenol A como fator agravante para o surgimento de ovários policísticos - distúrbio hormonal com alta prevalência em jovens e também uma das maiores causas de infertilidade mundial. A nutricionista funcional Luciana Harfenist, da Clínica Funcionali Consultoria em Nutrição, no Rio de Janeiro, comenta ainda outros problemas apontados como tendo relação com a substância: “Puberdade precoce ou tardia, obesidade, complicações cardíacas, diabetes, câncer, abortos e anormalidades no fígado são apenas algumas das doenças que podem ter origem no acúmulo excessivo de Bisfenol A no organismo”, explica a especialista.No Brasil, ainda é comum que algumas mamadeiras apresentem o composto e a discussão sobre o assunto, via de regra, só acontece entre os profissionais da área de saúde, passando despercebida pela maioria da população. Recentemente, uma publicação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária garantiu que a quantidade de Bisfenol A presente em mamadeiras, equivalente a 0,6 mg/Kg, não afeta a saúde. Porém, a Sociedade Brasileira de Pediatria aconselha a suspensão do seu uso, alegando não haver níveis seguros de utilização da substância por parte de bebês e crianças, como explica Luciana Harfenist: “O organismo das crianças, ainda em fase de desenvolvimento, não tem maturidade fisiológica para receber tantos elementos estranhos ao corpo humano. O que torna o problema ainda mais grave é o fato de que, como a contaminação é lenta e progressiva, a percepção das alterações é notada somente a longo prazo, quando a única alternativa é o tratamento da doença já desenvolvida”. A polêmica ganha ainda mais corpo a partir da proibição da fabricação de mamadeiras com policarbonato em países como Canadá, Costa Rica, Dinamarca e em quatro estados norte-americanos . Diante de tanta controvérsia e incertezas, como é possível garantir a saúde e o bem
estar das crianças? Para se precaver, os pais só devem adquirir produtos de plástico com o selo “livre de BPA”, que alguns fabricantes estão incorporando a esses produtos, especialmente os infantis. Outra dica é procurar um aviso no fundo das embalagens, que adverte que o produto pode conter Bisfenol A, para evitar sua compra. Geralmente, ele é identificado pelo número 7 dentro do símbolo de reciclagem, indicando que, entre outros plásticos, o produto tem policarbonato em sua composição. O grande problema é que a legislação nacional não obriga o fabricante a sinalizar a presença do composto, o que faz com que essa informação seja praticamente inexistente nas embalagens. A orientação da nutricionista funcional é que se procure armazenar os alimentos em recipientes de vidro, inclusive aqueles que não requerem aquecimento para seu consumo, já que o componente é liberado mesmo em alimentos frios, quando eles ficam guardados por muito tempo. Com relação às mamadeiras, Lucia-na Harfenist explica que, no Brasil, a fabricação e comercialização de produtos livres de Bisfenol A vem avançando muito nos últimos anos, mas que, em caso de dúvida sobre a procedência do objeto, os pais devem evitar preparar a bebida com muita antecedência, não aquecer o líquido diretamente no recipiente e, perincipalmente-te, nunca esquentar a bebida na mamadeira dentro do microondas, já que a liberação da substância química pode ser ainda maior.
Confira mais algumas dicas da nutricionista funcional Luciana
Harfenist para evitar o consumo excessivo de Bisfenol A:
• Somente adquirir objetos de plástico, especialmente o transparente, que contenham
o selo “livre de BPA” ou verificar se, em sua lista de componentes, ele não possui o
símbolo PC ou a substância policarbonato, além de evitar aqueles em que é possível
visualizar o número 7 junto ao símbolo de reciclagem no fundo da embalagem, o que
pode ser uma indicação da presença da substância;
• Sempre que possível, utilizar embalagens de vidro ou cerâmica para armazenar
comidas e bebidas;
• Nunca congelar e nem aquecer alimentos no microondas em embalagens plásticas
que possam conter Bisfenol A, pois as mudanças de temperatura auxiliam o
desprendimento da substância;
• Se possível, optar por filtros de alumínio ou barro no lugar de galões de água
mineral; e
• Evitar o consumo de alimentos enlatados, já que o Bisfenol A também é utilizado para
evitar ferrugem