Pesquisadores testam medicamentos para combater sintomas de autismo
"As pessoas podem aprender mais, a falar melhor, a interagir com outras pessoas e ser mais comunicativas", diz Randall Carpenter da empresa Seaside Therapeutics em Cambridge, Massachusetts (EUA), que está testando uma droga dessa nova classe.
O entusiasmo é compartilhado por Geraldine Dawson, cientista-chefe da instituição beneficente Autism Speaks e psiquiatra na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hills (EUA). "Pela primeira vez, estamos vendo medicamentos que poderiam lidar com sintomas essenciais do autismo."
O teste da Seaside Therapeutics é destinado a pessoas afetadas pela síndrome do X frágil, doença genética associada com o autismo. Pessoas com a síndrome possuem uma mutação em um gene envolvido no fortalecimento de conexões cerebrais ligadas a experiências salientes. Conexões mais fortes permitem que se consiga distinguir eventos relevantes de eventos irrelevantes (ou seja, permite o aprendizado). Mas a mutação no gene dificulta esse processo.
Uma equipe de pesquisadores da Seaside Therapeutics, liderado por Carpenter, está testando uma droga chamada arbaclofen que parece ser capaz de reverter os efeitos dessa mutação.
Carpenter apresentou os resultados em um encontro de pesquisadores da área na Filadélfia no dia 23 de maio.
Os resultados do trabalho sugerem que a nova droga pode melhorar habilidades sociais de pessoas com a síndrome do X frágil e autismo, incluindo melhora na comunicação e sociabilidade em geral e menos episódios de acesso de raiva.
Outra substância que pode ajudar no tratamento é o hormônio ocitocina. Já se sabe que a substância parece conectar sensações de prazer ao contato social. Por causa disso, diversos grupos de pesquisa estão usando a ocitocina em testes para reduzir os sintomas do autismo.
No encontro da Filadélfia, uma equipe liderada por Evdokia Anagnostou, neurologista infantil do Instituto de Pesquisa Bloorview em Toronto, Canadá, apresentou um trabalho mostrando que a administração de duas doses diárias de ocitocina por seis dias aumenta a capacidade de reconhecer emoções e o funcionamento social de outras pessoas.
Segundo a psicóloga Uta Frith, do University College London, na Inglaterra, esse tipo de abordagem química no tratamento de autismo é algo ainda muito novo. Para Frith, seria muito bom que drogas pudessem atacar as causas da doença, mas enquanto elas não vêm, intervenções comportamentais ainda são uma das melhores alternativas.
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/743866-pesquisadores-testam-medicamentos-para-combater-sintomas-de-autismo.shtml