O contato de olhar do Pedro aos 2 anos era quase inexistente, ele sim, trocava alguns olhares comigo porque sou a mãe, mas eram olhares breves e pouco freqüentes.
Aos 2 anos e meio começamos o nosso programa caseiro (sem consultora) de ABA seguindo o livro da Catherine Maurice, mesmo sentindo que algo não estava de acordo, fizemos o programa do "look at me" (olhe para mim e a criança ganha um reforço), guiada pelo instinto, fora da cadeirinha eu buscava o olhar do Pedro e fazia as minhas caretas, segui persistente mesmo com pouquíssimo retorno que vinha quase sem nenhuma qualidade no olhar.
Quando o Pedro estava com 3 anos a consultora comportamental entrou em nossas vidas e reformulou os programas de estímulo do Pedro. Os que se referiam ao olhar tinham como objetivo buscar o olhar do Pedro não importasse o esforço necessário da nossa parte, lenta mas progressivamente o olhar foi aumentando em constância e qualidade.
Instintivamente eu instalei espelhos pela casa, aqueles espelhos de corpo inteiro, porém eu pendurei estes espelhos na horizontal, principalmente nos lugares que o Pedro passava mais tempo, com isso eu trabalhava o olhar dele através do espelho o que pareceu ser mais fácil para o Pedro manter o olhar.
Estes espelhos depois serviram para trabalhar imitação motora e outros jogos de RDI, no vídeo abaixo é um exemplo de uma atividade de RDI mas eu resgatei nossas primeiras interações através do espelho, se você está começando a trabalhar o olhar use a sugestão sem o movimento de ir e vir, só a brincadeira no espelho mesmo.
http://http//www.youtube.com/user/dorionschenk#p/u/13/WTdq3ynDzg0
No vídeo também trabalhamos a fase de transmitir a mensagem só através do olhar (a direção que temos que ir).
Porém, antes de seguir instruções através do olhar, trabalhamos dentro do programa de ABA encontrar o tesouro seguindo olhar, a brincadeira tem duas etapas, na primeira etapa tínhamos 3 cestas exatamente iguais viradas de boca para baixo, então escondíamos um reforço embaixo de uma das cestas, com o olhar e somente com o olhar indicávamos ao Pedro em qual cesta estava o reforço, no início, para a indução de acerto chegávamos a encostar o nariz na cesta que o reforço estava escondido, e daí fomos afastando a indução de acerto até que com o tempo só o olhar na direção da cesta era o suficiente para dar a pista de onde encontrar o tesouro.
Na fase seguinte escondíamos o tesouro (reforço) em um lugar do quarto de terapia e indicávamos aonde estava somente com o olhar, novamente, por causa da mudança da estrutura da "caça" tivemos que encostar o nariz no lugar onde o reforço estava escondido, gradualmente fomos afastando a indução do acerto até que só o olhar na direção já disparava o Pedro pela caça ao tesouro.
Este foi um ponto importante que aprendemos na nossa jornada, o Luís tinha e mantinha um ótimo contato ocular de autista segundo um dos especialistas que nós consultamos, isso queria dizer que ele olhava para nós, porque assim foi treinado, mas o Luís não sabia que através do olhar buscamos informações sobre o ambiente e como devemos nos comportar. Para ele, e depois para o Pedro também desenvolvemos a brincadeira de limpar janelas e espelhos (e os espelhos ligavam para as primordias brincadeiras de buscar o olhar e imitação) somente seguindo as instruções do olhar, como indução de acerto (que foi necessária no começo) usávamos o apontar, mas jamais palavras para não competir com o foco que queríamos ensinar: o olhar como fonte de informação.
http://www.youtube.com/user/dorionschenk#p/u/8/kPNjkqws-H4
http://www.youtube.com/user/mariaschenk#p/u/18/MBuKJi9LSF4
Na rua ou em lojas como supermercados e lojas de departamento trabalhamos com o Luís o olhar pra saber qual caminho seguir, assim em cada encruzilhada ele sabia que teria que olhar para nós e com o olhar nós indicávamos o caminho a seguir. Assim construímos a referência através do olhar, tão importante para o amadurecimento emocional do Luís.