O que acontece quando você fica elogiando a inteligência de uma criança
Autismo

O que acontece quando você fica elogiando a inteligência de uma criança


Gabriel é um menino esperto.
Cresceu ouvindo isso.
Andou, leu e escreveu cedo.
Vai bem nos esportes.
É popular na escola e as provas confirmam, numericamente e por escrito, sua capacidade.
“Esse menino é inteligente demais”, repetem orgulhosos os pais, parentes e professores. “Tudo é fácil pra esse malandrinho”.

Porém, ao contrário do que poderíamos esperar, essa consciência da própria inteligência não tem ajudado muito o Gabriel nas lições de casa.
- “Ah, eu não sou bom para soletrar, vou fazer o próximo exercício”.
Rapidamente Gabriel está aprendendo a dividir o mundo em coisas em que ele é bom, e coisas em que ele não é bom.

gabriel3
A estratégia (esperta, obviamente) é a base do comportamento humano: buscar prazer e evitar a dor. No caso, evitar e desmerecer as tarefas em que não é um sucesso e colocar toda a energia naquelas que já domina com facilidade.

Mas, como infelizmente a lição de casa precisa ser feita por inteiro, inclusive a soletração, de repente a auto-estima do pequeno Gabriel faz um… crack.
Acreditar cegamente na sua inteligência à prova de balas, provocou um efeito colateral inesperado: uma desconfiança de suas reais habilidades.

Inconscientemente ele se assusta com a possibilidade de ser uma fraude, e para protegê-lo dessa conclusão precipitada, seu cérebro cria uma medida evasiva de emergência: coloca o rótulo dourado no colo, subestima a importância do esforço e superestima a necessidade de ajuda dos pais.
A imagem do “Gabriel que faz tudo com facilidade” , a do “Gabriel inteligente” (misturada com carinho), precisa ser protegida de qualquer maneira.

Gabriel não está sozinho. São muitos os prodígios, vítimas de suas próprias habilidades de infância e dos bem intencionados e sinceros elogios dos adultos.

Nos últimos 10 anos foram publicados diversos estudos sobre os efeitos de elogios em crianças.
Um teste, realizado nos Estados Unidos com mais de 400 crianças da quinta série (Carol S. Dweck / Ph.D. Social and Developmental Psychology / Mindset: The New Psychology of Success), desafiava meninos e meninas a fazer um quebra-cabeças, relativamente fácil.

Quando acabavam, alguns eram elogiados pela sua inteligência (“você foi bem esperto, hein!) e outros, pelo seu esforço (“puxa, você se empenhou pra valer hein!”).
Em uma segunda rodada, mais difícil, os alunos podiam escolher entre um novo desafio semelhante ou diferente.

A maioria dos que foram elogiados como “inteligentes” escolheu o desafio semelhante.
A maioria dos que foram elogiados como “esforçados” escolheu o desafio diferente.
Influenciados por apenas UMA frase.
O diagrama abaixo mostra bem as diferenças de mentalidade e o que pode acontecer na vida adulta.
graf
O Malcom Gladwell tem um ótimo livro sobre a superestimação do talento, chamado “Fora de Série” (“outliers”). Lá aprendi sobre a lei das 10 mil horas, tempo necessário para se ficar bom em alguma coisa e que já ensinei pro meu filho.
Se você tem um filho, um sobrinho, ou um amigo pequeno, não diga que ele é inteligente. Diga que ele é esforçado, aventureiro, descobridor, fuçador, persistente.

Celebre o sucesso, mas não esqueça de comemorar também o fracasso seguido de nova tentativa.
UPDATE : Apenas alguns esclarecimentos a alguns dos comentários…
01. Não, eu não estou dizendo para não elogiar as crianças. E não, também não estou dizendo para você nunca dizer para o seu filho que ele é inteligente. É apenas uma questão de evitar o RÓTULO.
02. Evidentemente não sou o autor dessa tese/teoria, muito menos desse estudo citado no post. Escrevi justamente SOBRE essa linha de pensamento. Quem escreveu essa teoria foi Carol S. Dweck / Ph.D. Social and Developmental Psychology / Mindset: The New Psychology of Success(http://news.stanford.edu/news/2007/february7/dweck-020707.html) como foi citado acima e nos comentários também.

03. Gostaria de aproveitar o update e agradecer pelos inúmeros comentários e likes, o que prova o quanto esse assunto é fascinante. Obrigado!

Fonte: http://clinicaalamedas.wordpress.com/2013/09/02/o-que-acontece-quando-voce-fica-elogiando-a-inteligencia-de-uma-crianca/



loading...

- Connector - Gabriel 15 Anos
Vídeo - clique aqui Nos primeiros 35 segundos do vídeo o Gabriel estava caminhando no parque sendo seguido e protegido por seus pais. Na maioria dos momentos, o Gabriel toma a dianteira na caminhada e faz com que seus acompanhantes coordenem a velocidade...

- Brincanto - Livro Fala Sobre O Envolvimento Da Família No Tratamento Do Filho Autista
Jornalista e psicopedagoga baiana e seu marido, editores deste blog, lançam livro em São Paulo Decididos a compartilhar sua experiência na educação de seu filho caçula Gabriel, que é autista, a jornalista e psicopedagoga Mariene Martins Maciel...

- Com O Autismo Dentro De Casa (reportagem)
Síndrome que atinge um em cada 70 meninos afeta todos os que convivem com os pacientes. Familiares lutam por respeito e pelo fim do preconceito “Quando se trata de autismo, parece que estamos começando a Medicina”, diz o médico geneticista Salmo...

- Estímulo
Gabriel tem treze anos e meio. Tecnicamente, é AAF - autista de alto funcionamento; Gabriel, para quem gosta dele. Ele não consegue escrever sem a ajuda de equipamentos, como o micro-computador ou um normógrafo. Faz uns desenhos muito básicos. A gente...

- Dicas De Livros Infantis Sobre Crianças Especiais
1-Alguém muito especial - 2ª edição Autora:Miriam Portela Editora:Moderna China era diferente das outras crianças porque era portador da síndrome de Down. Neste livro, Tico, seu irmão mais velho, conta como conseguiu estabelecer uma comunicação...



Autismo








.