Novamente em busca de tratamento médico para as seqüelas de mais de três décadas sem diagnóstico!! E um depoimento emocionante de uma leitora!!
Autismo

Novamente em busca de tratamento médico para as seqüelas de mais de três décadas sem diagnóstico!! E um depoimento emocionante de uma leitora!!


Olá!


Ontem eu fui novamente consultar o médico do posto de saúde(SUS) para continuar meu tratamento para depressão e dor crônica que faço com um remédio chamado Sertralina, e faço uso também de anti-inflamatórios.


A surpresa que eu tive é que o médico não atendia mais e a médica que assumiu a vaga foi muito atenciosa, e me encaminhou para o Centro de atendimento psicossocial- CAPS, para que eu tenha acesso a tratamento específico para depressão crônica(endógena), que é a que eu tenho, este tipo de depressão é de origem genética, eu tenho outros casos na família e eu não consigo me livrar dela!!


A médica me orientou sobre o meu sono, pois eu passo o dia todo cansada e sonolenta e a noite não consigo dormir, estou dormindo pouco e isso piora tudo.


Bom, eu não falei para ela sobre a descoberta deste GIGANTESCO traço autístico que eu possuo, mas ela me disse que o terapeuta ocupacional do CAPS poderá me dar dicas de como lidar com a minha situação.


Ontem mesmo fui ao local para marcar minha triagem, confesso que depois das inúmeras tentativas o que me restou foi quase nenhuma expectativa, mas depois da minha leitura do livro "Sindromes Silenciosas" de Jonh J. Ratey e  Caterine Johnson da Ed. objetiva fica difícil não buscar tratamento médico, por mim mesma e pela minha família. 


Mas o que me impulsiona e ao mesmo tempo me causa desespero é o estado de praticamente "morta-viva" em que eu me encontro, é uma mistura de isolamento total, com exceção da internet, o contato que eu tenho com o mundo real é praticamente o que se faz necessário para a sobrevivência e os cuidados com meus filhos.


Estes dias eu recebi um email surpreendente de uma leitora, eu me identifiquei tanto com o relato que pedi sua autorização para publicá-lo aqui no blog, pois como foi bom para ela ler meus relatos, foi ótimo poder conhecer alguém com uma vivência tão parecida, não sei explicar o porque, mas dá uma sensação de alívio saber que não estou só nesta situação.


Eis o relato:



olá, grace, passei as últimas horas lendo seu blog e gostaria de agradecer por ele. me identifiquei com muitas, muitas coisas que você escreveu.

sempre me senti estranha, deslocada, sempre fui chamada maluquinha, mau caráter, desequilibrada e arrogante. tenho pensamentos suicidas desde os 5 anos de idade, sempre senti uma tristeza, angústia e isolamento profundo. tenho 30 anos, moro no rio de janeiro e estou no meu segundo tratamento psiquiátrico por causa da depressão. apesar de ter sido diagnosticada como depressiva sempre senti que meu problema era além, apesar de não ter idéia do que era essa outra coisa.

sexta-feira passada, por acaso, encontrei um artigo na internet sobre síndrome de asperger e me vi em todos os sintomas. foi como um luz caísse na  minha vida e tudo aquilo que eu não conseguia entender finalmente teve uma explicação. vim de uma família extremamente disfuncional, meu pai certamente tem traços autistas bem definidos, minha mãe e meus irmãos são claramente depressivos, apesar de só eu ir ao psiquiatra e considerada a "louca" da família.

atualmente, meu maior sacrifício é acordar todo dia e ir ao trabalho. sou redatora de uma agência publicitária, não me faltam criatividade nem habilidade com palavras. estou lá há três meses e já sonho com o dia da minha demissão. conviver 9 horas por dia com pessoas que não significam nada para mim é um tormento. sempre que posso, fujo na hora do almoço só para ficar sozinha. apesar da qualidade do meu trabalho ser impecável, já tive a atenção chamada pelo gerente da agência que disse que sou "antissocial e que minha atitude pode atrapalhar a coesão do grupo". por mim, sentaria, faria meu trabalho e iria para casa. interagir, fazer elogios e me inserir nas conversas "de elevador" daquelas pessoas é um sofrimento sem fim para mim.

nas situações da vida em que preciso ser simpática, eu sou. uso minha habilidade com palavras, sorrio e conquisto as pessoas. mas sinto que estou representando e volta e meia dá um curto-circuito e eu fecho a cara e vou embora. consegui construir algumas amizades, mas é esforço para encontrá-los em eventos sociais. converso pelo msn e pegar o telefone e ligar é um horror. aliás, tenho pavor de telefone, deixo sempre na secretária eletrônica para não precisar atender. celular para mim, só pra usar o sms.

claro que namoros também sempre foram um problema. percebo que tenho dois níveis de entendimento. o racional e o outro. racionalmente, entendo quando gostam de mim, que se interessam, mas não acredito. não consigo explicar isso, não entendem como posso sentir duas coisas tão diferentes ao mesmo tempo, mas sinto. nunca digo quando gosto de alguém, simplesmente acho desnecessário e não entendo como alguém pode ser ofender com isso. de maneira alguma me sinto indiferente, mas agora olhando para trás vejo que acham que sou assim.

descobri que não olho no olhos das pessoas. nunca tinha pensado nisso, quando li que este era um sintoma, comecei a lembrar que meus poucos ex namorados sempre diziam "olha no meu olho" e eu achava que era brincadeira ou frescura deles.

fiz psicoterapia a vida inteira, minha última foi com uma psicóloga freudiana que fiquei dos 19 aos 28 anos e ela nunca descobriu meu autismo. um dia me dei alta porque não aguentava mais ouvir que eu precisava me adaptar ao mundo, enfrentar a vida, deixar de ser arrogante, etc, etc. todas as "críticas" que ela me fazia, agora me parecem claramente sintomas do autismo.
hoje me sinto com um peso e um alívio enorme ao mesmo tempo. é como se eu sentisse uma dor extrema sem saber onde, até que fui num médico e ele dissesse que eu tenho um braço quebrado e posso usar um gesso para ser normal. nunca pensei que todas minhas "esquisitices" poderiam ser classificadas como uma síndrome, mas por outro lado sinto um medo enorme. sou autista e o que vou fazer da minha vida? será que vou continuar a vida inteira fingindo ser legal no trabalho, aturando tudo que odeio até me aposentar? será que algum dia vou conseguir mergulhar num relacionamento? será que vou conseguir aprender as regras sociais de convivência?

meu maior alívio é que não estou sozinha nisso e que agora posso aprender a corrigir "meus defeitos" ou pelo menos, compreende-los melhor."


Agradeço imensamente pela autorização para publicar este relato, a oportunidade de conhecer pessoas como
você fazem a vida valer a pena!!Que Deus te dê muita coragem e paz!!


Até a próxima!!
Grace Caroline.
P.S.: Preciso deixar aqui um recado para minha amiga, que já considero irmã, a Karla Coelho, leitora e colaboradora fiel deste blog, pois eu sei que ela se preocupa muito com autistas que fazem tratamento com medicação. A minha condição melhorou com os meus cuidados com a alimentação, mas segundo as orientações médicas eu não posso mais adiar o tratamento com medicação.
Beijo Karla!!



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