sempre me senti estranha, deslocada, sempre fui chamada maluquinha, mau caráter, desequilibrada e arrogante. tenho pensamentos suicidas desde os 5 anos de idade, sempre senti uma tristeza, angústia e isolamento profundo. tenho 30 anos, moro no rio de janeiro e estou no meu segundo tratamento psiquiátrico por causa da depressão. apesar de ter sido diagnosticada como depressiva sempre senti que meu problema era além, apesar de não ter idéia do que era essa outra coisa.
sexta-feira passada, por acaso, encontrei um artigo na internet sobre síndrome de asperger e me vi em todos os sintomas. foi como um luz caísse na minha vida e tudo aquilo que eu não conseguia entender finalmente teve uma explicação. vim de uma família extremamente disfuncional, meu pai certamente tem traços autistas bem definidos, minha mãe e meus irmãos são claramente depressivos, apesar de só eu ir ao psiquiatra e considerada a "louca" da família.
atualmente, meu maior sacrifício é acordar todo dia e ir ao trabalho. sou redatora de uma agência publicitária, não me faltam criatividade nem habilidade com palavras. estou lá há três meses e já sonho com o dia da minha demissão. conviver 9 horas por dia com pessoas que não significam nada para mim é um tormento. sempre que posso, fujo na hora do almoço só para ficar sozinha. apesar da qualidade do meu trabalho ser impecável, já tive a atenção chamada pelo gerente da agência que disse que sou "antissocial e que minha atitude pode atrapalhar a coesão do grupo". por mim, sentaria, faria meu trabalho e iria para casa. interagir, fazer elogios e me inserir nas conversas "de elevador" daquelas pessoas é um sofrimento sem fim para mim.
nas situações da vida em que preciso ser simpática, eu sou. uso minha habilidade com palavras, sorrio e conquisto as pessoas. mas sinto que estou representando e volta e meia dá um curto-circuito e eu fecho a cara e vou embora. consegui construir algumas amizades, mas é esforço para encontrá-los em eventos sociais. converso pelo msn e pegar o telefone e ligar é um horror. aliás, tenho pavor de telefone, deixo sempre na secretária eletrônica para não precisar atender. celular para mim, só pra usar o sms.
claro que namoros também sempre foram um problema. percebo que tenho dois níveis de entendimento. o racional e o outro. racionalmente, entendo quando gostam de mim, que se interessam, mas não acredito. não consigo explicar isso, não entendem como posso sentir duas coisas tão diferentes ao mesmo tempo, mas sinto. nunca digo quando gosto de alguém, simplesmente acho desnecessário e não entendo como alguém pode ser ofender com isso. de maneira alguma me sinto indiferente, mas agora olhando para trás vejo que acham que sou assim.
descobri que não olho no olhos das pessoas. nunca tinha pensado nisso, quando li que este era um sintoma, comecei a lembrar que meus poucos ex namorados sempre diziam "olha no meu olho" e eu achava que era brincadeira ou frescura deles.
fiz psicoterapia a vida inteira, minha última foi com uma psicóloga freudiana que fiquei dos 19 aos 28 anos e ela nunca descobriu meu autismo. um dia me dei alta porque não aguentava mais ouvir que eu precisava me adaptar ao mundo, enfrentar a vida, deixar de ser arrogante, etc, etc. todas as "críticas" que ela me fazia, agora me parecem claramente sintomas do autismo.
hoje me sinto com um peso e um alívio enorme ao mesmo tempo. é como se eu sentisse uma dor extrema sem saber onde, até que fui num médico e ele dissesse que eu tenho um braço quebrado e posso usar um gesso para ser normal. nunca pensei que todas minhas "esquisitices" poderiam ser classificadas como uma síndrome, mas por outro lado sinto um medo enorme. sou autista e o que vou fazer da minha vida? será que vou continuar a vida inteira fingindo ser legal no trabalho, aturando tudo que odeio até me aposentar? será que algum dia vou conseguir mergulhar num relacionamento? será que vou conseguir aprender as regras sociais de convivência?
meu maior alívio é que não estou sozinha nisso e que agora posso aprender a corrigir "meus defeitos" ou pelo menos, compreende-los melhor."
Agradeço imensamente pela autorização para publicar este relato, a oportunidade de conhecer pessoas como
loading...
Olá! Como muita gente deve estar se perguntando o que eu realmente estou buscando no CAPS, eu resolvi publicar esta nota. Eu busco o encerramento do meu tratamento com medicamentos para depressão e dor crônica, e espero realmente me livrar dos remédios,...
Olá! Voltei ao CAPS na terça feira e conversando com a psicóloga resolvemos que o melhor seria eu passar pelo período de avaliação de 15 dias frequentando o grupo de pacientes que é atendido lá. Quanto a consulta com a médica psiquiatra,...
Olá! Ontem eu compareci ao CAPS(Centro de atendimento psicossocial) para passar pela triagem, conversar com a psicóloga que me encaminharia ou não para a médica psiquiatra que atende no local. Mais uma vez contei minha história e senti que...
A minha rotina é rígida. A necessidade de organizar é muito grande. Porém hoje numa reflexão mais profunda, eu percebi que muitas coisas na minha rotina é uma "bagunça", e eu me questionei o porque desta bagunça. Eu me lembrei que sempre tive...
Atualmente eu só tenho contato com o mundo externo pela internet, e alguns compromissos formais como reunião de escola e compras no supermercado e só. Estou vivendo assim desde que voltei para SC para o nascimento da minha filha em 2005, tive início...