Optogenia controla circuitos cerebrais específicos, e com isso, traz novas terapias contra ansiedade, Parkinson, entre outros
The New York Times | 
28/05/2011 13:38 
   Foto: The New York Times   
Cobaia durante experiência com aparelho optogenético: terapia localizada ajuda com ansiedade
O tratamento contra ansiedade já não exige anos de comprimidos  ou psicoterapia. Pelo menos não para um grupo de ratos modificados pela  bioengenharia.
Num estudo recentemente publicado na revista Nature, uma equipe de  neurocientistas transformou essas amedrontadas presas em exploradores  audazes – com o toque de um botão.
O grupo, liderado por Karl Deisseroth, psiquiatra e pesquisador em  Stanford, empregou uma nova tecnologia, chamada optogenética, para  controlar a atividade elétrica em alguns neurônios cuidadosamente  selecionados.
Primeiro, eles projetaram esses neurônios para serem sensíveis à luz.  Então, usando fibras óticas implantadas, eles piscaram uma luz azul  numa via neural específica na amígdala cerebelosa, região do cérebro  envolvida no processamento de emoções. E os ratos, que vinham se  limitando aos cantos de seu confinamento, saíram em disparada pelo  espaço aberto.
Embora tais ferramentas estejam bem longe de qualquer uso em humanos,  cientistas afirmam que a pesquisa optogenética é emocionante por lhes  oferecer um controle extraordinário sobre circuitos específicos do  cérebro – e, com isso, novas percepções sobre uma série de doenças,  entre elas a ansiedade e o mal de Parkinson.
Deisseroth reconheceu que ratos são muito diferentes de humanos. Mas  acrescentou que, como “o cérebro mamífero possui notáveis semelhanças  entre espécies”, as descobertas podem levar a um maior entendimento dos  mecanismos neurais da ansiedade humana.
David Barlow, fundador do Centro de Ansiedade e Doenças Relacionadas  da Universidade de Boston, adverte contra levar a analogia longe demais:  “Tenho certeza de que os pesquisadores concordariam que essas síndromes  complexas não podem ser reduzidas à ativação de um único circuito  neural, sem considerar outros circuitos cerebrais importantes –  incluindo aqueles envolvidos no pensamento e na avaliação”.
Mas uma visão mais profunda surgiu de um experimento de  acompanhamento, onde a equipe de Deisseroth aplicou seu feixe de luz de  forma um pouco mais ampla, ativando mais vias na amídala. Isso apagou  inteiramente o efeito, deixando os ratos mais assustadiços do que nunca.
Isso implica que os atuais tratamentos com remédios, que são bem  menos específicos e costumam causar efeitos colaterais, também poderiam  estar trabalhando contra eles mesmos.
David Anderson, professor de biologia do Instituto de Tecnologia da  Califórnia que também conduz pesquisas usando a optogenética, compara os  efeitos das drogas a uma troca de óleo descuidada. Se você jogar um  galão de óleo no motor de seu carro, parte dele irá escoar ao lugar  certo, mas a maior parte acabará fazendo mais mal do que bem.
“Transtornos psiquiátricos provavelmente não se devem apenas a  desequilíbrios químicos no cérebro”, afirmou Anderson. “Eles são mais do  que uma enorme sacola de serotonina ou dopamina, cujas concentrações  podem ser altas ou baixas demais. Em vez disso, os problemas  provavelmente envolvem desarranjos de circuitos específicos, em regiões  específicas do cérebro”.
Então a optogenética, que pode focar em circuitos individuais com uma  precisão excepcional, pode ser algo promissor ao tratamento  psiquiátrico.
Mesmo assim, Deisseroth e outros avisam que pode muitos levar anos  até essas ferramentas serem usadas em humanos, se isso acontecer.
Para começar, o procedimento envolve uma bioengenharia que a maioria  das pessoas pensaria duas vezes a respeito. Primeiro, biólogos  identificam uma opsina, proteína encontrada em organismos  fotossensíveis, como algas, que lhes permite detectar a luz. Depois,  eles pescam o gene da opsina e o inserem num neurônio dentro do cérebro,  usando vírus modificados para serem inofensivos – ou “seringas  moleculares descartáveis”, como define Anderson.
Ali, o DNA da opsina se torna parte do material genético da célula e  as proteínas resultantes da opsina conduzem correntes elétricas – a  linguagem do cérebro – quando expostas à luz. Algumas opsinas, como a  “channelrhodopsin”, que reage à luz azul, ativa neurônios; outras, como a  “halorhodopsin”, ativada por luzes amarelas, silenciam neurônios.
Finalmente, pesquisadores delicadamente inserem fibras óticas através  de camadas de tecido nervoso, e aplicam a luz apenas ao ponto certo.
Graças à optogenética, neurocientistas podem ir além de observar  correlações entre a atividade dos neurônios e o comportamento de um  animal: ativando ou desativando certos neurônios, eles podem provar que  aqueles neurônios efetivamente comandam o comportamento.
“Às vezes, antes de palestras, as pessoas me perguntam sobre minhas  ferramentas de 'imagens”', disse Deisseroth, psiquiatra praticante de 39  anos. Sua insatisfação pessoal com os atuais tratamentos o levou a  montar um laboratório de pesquisa, em 2004, para desenvolver e aplicar  tecnologias de optogenética.
‘`Eu digo: ’Curiosamente, uso o exato oposto  das imagens, que é a observação.
Não estamos usando a luz para observar eventos. Estamos enviando luz para causar eventos’''.
Em experimentos iniciais, cientistas fizeram com que vermes parassem  de se mexer e ratos ficarem correndo em círculos, como se tivessem um  controle remoto.
Agora que a técnica recebeu seus louros, laboratórios do mundo todo  começaram a usá-la para compreender melhor o funcionamento do sistema  nervoso e para estudar problemas como dores crônicas, mal de Parkinson e  degeneração da retina.
Algumas das percepções obtidas com esses experimentos em laboratório já estão abrindo caminho à prática clínica.
O Dr. Amit Etkin, psiquiatra e pesquisador de Stanford que colabora  com Deisseroth, está tentando traduzir as descobertas sobre ansiedade em  roedores para aprimorar a terapia humana com ferramentas existentes.  Usando a simulação magnética transcraniana, técnica muito menos  específica que a optogenética mas com a vantagem de não ser invasiva,  Etkin busca ativar o correspondente humano dos circuitos da amídala que  reduziram a ansiedade nos ratos de Deisseroth.
O Dr. Jamie Henderson, seu colega no departamento de neurocirurgia,  já tratou mais de 600 pacientes de Parkinson usando um procedimento  padrão chamado estimulação cerebral profunda. O tratamento, que requer o  implante de eletrodos de metal numa região do cérebro chamada núcleo  subtalâmico, melhora a coordenação e ajusta o controle motor. Mas também  causa efeitos colaterais, como contrações musculares involuntárias e  vertigens, talvez porque ativar eletrodos no interior do cérebro também  ativa circuitos alheios.
“Se pudéssemos descobrir como ativar apenas os circuitos que oferecem  benefícios terapêuticos sem mexer naqueles que causam os efeitos  colaterais, obviamente seria algo bastante útil”, disse Henderson.
Além disso, como ocorre em qualquer cirurgia invasiva do cérebro,  implantar eletrodos traz riscos de infecção e hemorragia fatal. E se, em  vez disso, você pudesse estimular a superfície cerebral? Uma nova  teoria sobre o grau em que essa estimulação afeta os sintomas de  Parkinson, baseada no trabalho de optogenética em roedores, sugere que  isso poderia funcionar.
Recentemente, Henderson iniciou testes clínicos em pacientes humanos e  espera que essa abordagem também possa tratar outros problemas  associados ao Parkinson, como distúrbios de fala.
No prédio ao lado, Krishna V. Shenoy, pesquisador em neurociência,  está trazendo a optogenética para trabalhar com primatas. Estendendo o  sucesso de uma iniciativa similar, conduzida por um grupo do MIT  dirigido por Robert Desimone e Edward S. Boyden, ele recentemente  inseriu opsinas no cérebro de macacos rhesus. Eles não apresentaram  efeitos nocivos dos vírus ou das fibras óticas e a equipe conseguiu  controlar neurônios selecionados usando a luz.
Segundo Shenoy, que integra um empenho internacional financiado pela  Defense Advanced Research Projects Agency, a optogenética promete novos  dispositivos que poderiam, eventualmente, tratar lesões cerebrais  traumáticas e equipar veteranos de guerra feridos com próteses neurais.
“Os sistemas atuais podem mover um braço prostético até um copo;  porém, sem uma sensação artificial do toque, é muito difícil pegar esse  copo sem derrubá-lo ou estilhaçá-lo”, afirmou ele. “Ao enviar  informações de sensores nos dedos prostéticos diretamente ao cérebro –  usando a optogenética _, seria possível, em teoria, proporcionar uma  sensação artificial de tato com alta fidelidade”.
Alguns pesquisadores já estão imaginando como os tratamentos de  optogenética poderiam ser usados diretamente em pessoas, caso o desafio  biomédico de entregar novos genes aos pacientes possa ser superado.
Boyden, que participou do desenvolvimento inicial da optogenética,  administra um laboratório dedicado a criar e disseminar ferramentas cada  vez mais poderosas. Ele declarou que a luz, diferente de drogas e  eletrodos, pode ativar neurônios – ou, como ele mesmo coloca, “desligar  um circuito inteiro”. E desligar circuitos superexcitáveis é exatamente o  que você gostaria de fazer com um cérebro epilético.
“Se você quer desligar um circuito cerebral, e a alternativa é uma  remoção cirúrgica de uma região do cérebro, implantes de fibra ótica  podem parecer preferíveis”, explicou Boyden. Vários laboratórios estão  trabalhando no problema, mesmo que as aplicações reais ainda pareçam  distantes.
Para Deisseroth, que trata pacientes com autismo e depressão, a  optogenética oferece uma promessa mais imediata: abrandar o estigma  enfrentado por pessoas com doenças mentais, cuja aparência de saúde  física pode gerar incompreensão junto a familiares, amigos e médicos.  “Para nós como sociedade, simplesmente entender que alguém com ansiedade  possui uma diferença de circuito conhecida ou passível de ser conhecida  já é incrivelmente valioso”, disse.
  
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