Intolerância ao choro: Sensibilidade auditiva?
Autismo

Intolerância ao choro: Sensibilidade auditiva?


Há muito tempo atrás, quando os meninos ainda eram bebês, quando o Luís chorava o Pedro entrava em agonia. Os profissionais que nos cercavam, naquela época tão recente do diagnóstico, colocavam o comportamento do Pedro em interpretações pré-moldadas, com isso a conclusiva de uma análise não pensada é que o Pedro se incomodava com o choro por sensibilidade auditiva.

De certo, o Pedro tinha algumas questões com o barulho do liquidificador e outras coisas, mas com o choro, a reação, os olhos do Pedro ficavam diferentes. Munida de intuíção, eu comecei a tratar como se este comportamento específico, que chegava a virar agressão contra o irmão, seria um estado de agonia sentida pelo choro.

Ao mesmo tempo ele estava no seu segundo ano de pré-escola, e depois de 1 ano que ele frequentou em estado apático, naquele início de ano letivo ele estava extremamente irritado e agressivo por conta do barulho da sala, qual o barulho? O choro das crianças que tinham acabado de iniciar na pré-escola.

Numa tentativa, às cegas, criei uma estratégia para diminuir a agonia do Pedro com o choro, levando em frente a minha interpretação de que o problema maior não era o barulho do choro, mas a agonia que ele sentia quando alguém chorava. E quando comentava isso com os profissionais recebia aquele olhar de pena e a frase "autista não tem empatia". O Pedro, por conta do autismo, e naquela época tão precoce, não tinha um repertório do que fazer e nem a habilidade de iniciar uma interação de troca emocional, a linguagem para ele era algo ainda muito confuso, então eu criei um livro (social stories) mostrando o que ele poderia fazer para aliviar a sua agonia com o choro.

Paritndo do princípio de ser humano, é muito difícil quando vemos e ouvimos alguém chorar e nos sentimos incapazes de aliviar o sofrimento do outro, principalmente quando é alguém próximo a nós, neste caso para o Pedro, seu irmão.

A social story criada para o Pedro, naquele momento, tinha o objetivo de explicar brevemente porque as crianças na escola poderíam estar chorando e o que ele podería fazer para ajudar a criança que chorava.

Em casa, eu movia ele a fazer o mesmo com o Luís, a tentar confortá-lo com um toque, um brinquedo (sempre fofinhos e molinhos caso o brinquedo voasse de volta) ou um biscoito. Aqui nasciam as primeiras interações positivas entre os dois.

Poder fazer algo, mover seu corpo com propósito no momento de uma situação de angústia ajudou imensamente ao Pedro suportar o choro de outras crianças. Impossível pensar em mantê-lo longe do estímulo que o incomodava, por mais sensibilidade auditiva. Mas, guiá-lo em entender, processar e tolerar sua emoção de angústia através de um movimento com propósito pode trazer o seu desenvolvimento social um passo à frente de onde ele estava.

Como, naquela época, o seu animal predileto era o galo, esse foi o personagem escolhido para a social story:
  Cocodle, o galo vai para a escola.
   Cocodle está muito animado porque ele gosta de ir para a escola.
   Cocodle conhece alguns dos outros galos da sua classe e eles estão animados com a escola também.
 Tem alguns pintinhos novos na classe do Cocodle.
 Alguns deles são pequenos e ainda não conhecem a escola e algumas vezes eles choram.
   Cocodle fica ansioso quando um pintinho chora e acha que tem que fazer alguma coisa.
 O que o Cocodle pode fazer?
   Cocodle pode ficar calmo e ouvir a professora, isto vai ajudar com que os pintinhos também se acalmem.
 Se o Cocodle ainda sentir que precisa ajudar o novo pintinho ele pode dar ao pintinho que está chorando um brinquedo.
Isso pode ajudá-lo a ficar contente!
   Cocodle é um ótimo galo e sabe como ajudar.







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