Insight I
Autismo

Insight I


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Olá!

Desde que descobri ter comportamento autístico, e isto faz um ano apenas, que fique bem claro, eu a cada dia renasço mais inteira, o “quebra cabeça” vai se organizando, hoje entendo perfeitamente porque a imagem que representa o autismo é este jogo intrigante e ao mesmo tempo tão óbvio.

O autismo é óbvio, ou melhor dizendo o nosso entendimento é óbvio, direto, claro, sem subterfúgios.

Somos fiéis até sermos traídos, somos gentis até sermos hostilizados, somos amorosos quando somos amados, enfim vivemos num mundo considerado por muitos como o ideal, um mundo justo sem mentiras, tramas, trapaças, enganações e as temidas “segundas intenções”, podemos ser confundidos com “boas pessoas”, mas como o mal não existe, é simplesmente a ausência do bem, e o conhecimento de que tudo é bom nos liberta do mal, obviamente que a nossa resposta ao tratamento hostil será tão dura quanto a de quem nos foi hostil.

Vivemos a lei da ação e reação ao pé da letra, mas havemos de não confundí-la com a lei de Talião, a do “olho por olho”, a do aqui se faz aqui se paga, simplesmente reagimos de acordo com o meio, simples assim.

E neste caso aí somos considerados egoístas, frios, egocêntricos, e realmente incomodamos.

A autista diz tudo o que pensa, mas nem tudo que sente.

Traduzimos muito bem o que é do pensamento concreto, mas o que é efêmero, fugaz, abstrato simplesmente não é passado para a condição verbal e isso não quer dizer que sentimentos não existam para nós.

Pois assim são meus pensamentos a cada segundo da minha existência, oscilando entre o que é concreto e o que não é, pensamentos se repetem sem alívio na minha cabeça, peço muitas vezes para que Deus acabe com isso.

Vejo na minha filha autista os mesmos sentimentos, porém ela tem o que para mim seria o BEM mais precioso: a ausência da fala, do verbo.

Falar o que se pensa sem conseguir filtrar através do bom senso é extremamente cansativo, eu concluo e revejo minhas conclusões infinitamente, e quase sempre acabo de alguma forma verbalizando este processo, e isto me impede literalmente de interagir socialmente, eu vivo como se fosse um dia que se repete eternamente.

Alguns anos atrás um amigo muito querido e estimado tentando me ajudar me disse que o livro da minha vida era enorme mas que no entanto eu havia escrito pouquíssimas páginas, e que para piorar eu as lia incansavelmente, ele me pedia para que eu começasse a escrever as páginas seguintes, que isso seria bom.

Passei muitos anos tentando escrever esta nova página, tentando vislumbrar este futuro, este simples “amanhã” ou o “outro dia”, mas para mim é muito difícil, para não dizer impossível, é abstrato demais.

O passado para mim é o que existe, é o que eu posso ver, sentir, vivenciar.

O futuro? Eu não sei o que é, então não existe.

E como viver assim???

Simplesmente repito sempre a mesma coisa, repito o que já foi, pois é o que eu sei como é.

Ontem eu e a Anna estávamos mais uma vez sozinhas, o papai Anderson viajou a trabalho novamente, então como era domingo e dia de jogo do Brasil na copa do mundo e sem querer ofender aos amantes do esporte, eu não dou muita importância para este campeonato, eu pedi para minha irmã para irmos para a sua casa, mas eu não imaginei a possibilidade de ter mais gente lá, e dito e feito: a casa se encheu de gente e eu me vi encurralada, tentei dar um suporte para minha filha que se apavorou com a movimentação e ao mesmo tempo me refugiar nesta posição de “mãe que tem que cuidar da filha”, mas logo fui solicitada para me juntar ao grupo.

Enfim, havia no grupo uma pessoa que me inspirava confiança, mas no entanto era a primeira vez que eu conversava com esta pessoa, e normalmente “pessoas boas” geram para mim uma falsa intimidade e uma sinceridade exagerada e então e eu me senti a vontade para conversar, e acabei falando coisas que eu sempre falo e me arrependo quando o assunto é filhos e família, eu repeti uma coisa que eu sempre digo e depois me arrependo:

Eu sempre digo que não tenho instinto maternal, mas isto não procede, então porque eu falo??

Porque eu quero dizer que não tenho habilidade com crianças de zero a seis anos, eu quero simplesmente dizer que a dependência da criança com as necessidades essenciais me incomoda.
Acabo sempre fazendo um discurso e uma crítica, que nem eu agüento mais ouvir, sobre as etapas de desenvolvimento infantil, eu sempre digo a mesma coisa: que a fase “larval” humana é muito longa e que passamos muito tempo na condição de mãe, e eu encerro este desastroso discurso sempre com a mesma frase: Eu não tenho nenhum instinto maternal!

Isto choca e agride as pessoas, pois a figura materna é sagrada e eu venho e praticamente resumo a nossa longa infância como um defeito.

Ter um filho Aspie e uma filha autista me exclui de passar com meus filhos pela situação normal de ser muito solicitada em algumas situações que talvez outras crianças solicitem, somos mais independentes no que diz respeito a solidão, ao estar só, nós autistas lidamos bem com o estar só dentro do nosso mundo, mas não no mundo coletivo.

Eu sei que depois deste insight não farei mais este discurso puramente biológico sobre as fases do crescimento em público, percebi claramente que com este dicurso eu passo a impressão de ser fria ou ignorante e sempre que eu percebo o mecanismo que me faz ter estes comportamentos indesejados eu automaticamente paro de tê-los, as vezes levo anos para detectá-los.

Pronto! Alterei meu futuro. Mais uma libertação!!

Mais um "insight", uma clara compreensão de uma questão, que geralmente chega de forma repentina, e me liberta.

Uma pessoa pode me explicar mil vezes este mesmo problema, mas enquanto eu não tenho este "insight" eu não vivencio este aprendizado, afinal o saber é fácil o difícil é ter sapiência!!

Passei um tempão sem escrever e acho que hoje me alonguei muito, mas são nestes raros momentos que faço contato com o mundo real então me empolgo.

Abraço e até a próxima!!



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