A inclusão não deve ser tarefa exclusiva da escola. Para Fernanda Travassos Rodrigues, pesquisadora do Núcleo de Estudos Clínicos e Psicossociais em Terapia de Família e Casal da PUC-Rio, a inclusão vem sendo construída por “muitas mãos”. E, por isso, ela acredita que pais e terapeutas têm dicas valiosas para passar para a escola. Além de ser professora da PUC-Rio, Fernanda está à frente do projeto Interação Pais e Filhos que visa a potencializar o desenvolvimento da criança, engajando os seus pais nas suas conquistas. Leia, a seguir, a entrevista da especialista que estuda, sobretudo, as relações de pais e filhos na contemporaneidade.
PARATODOS: Você considera importante os pais verificarem se já há outros alunos como inclusão na escola escolhida?
FERNANDA TRAVASSOS: Acho, digamos, interessante saberem se a escola já faz inclusão e até perguntar um pouco sobre a experiência do colégio. Honestamente, acho que uma escola que nunca fez inclusão e aceita o desafio de braços abertos pode estar mais apta ao diálogo e a uma construção mais sensível do que, por exemplo, algumas escolas que praticam uma inclusão já sem se questionar a respeito da própria prática e sem tentativas de se atualizar.PARATODOS: Qual a importância de se ter contato com outros pais?
FERNANDA: A inclusão é PARA TODOS! Os pais precisam se incluir no grupo
de pais para que o seu filho também seja incluído. Uma criança que nunca vai às festas da escola ou fora dela tem menos chance de estar mais integrada o grupo.
PARATODOS: Isso se torna importante até para quebrar resistências de pais que não veem com bons olhos a presença de crianças com questões em sala?
FERNANDA: Acho que sim. Ter laços de amizade com outros pais faz com que eles tenham um outro ponto de vista de toda a situação. É muito mais “simples” excluir uma realidade que parece muito distante de todos (de forma subjetiva e concreta). A aproximação e as trocas com outros adultos, também pais, fazem com que todos cresçam com a experiência conjunta.
PARATODOS: Você considera positivo que a equipe que cuida de um aluno (de médicos a terapeutas) tenha entrada na escola? Vale saber que profissionais escola considera uma referência?
FERNANDA: Acho não só válido como extremamente necessário. Alguns
terapeutas precisam fazer observações da dinâmica da turma para ajudar a
criança com suas habilidades sociais e emocionais que só podem ser vistas no grupo. Tenho um pouco de receio dessas “dobradinhas” de terapeutas e
escolas. Os casos são diferentes; as crianças, diferentes; e as famílias,
diferentes. O que pode dar certo para uns não necessariamente funciona om
outros. A escolha dos terapeutas é muito particular e deve ser feita depois de algumas entrevistas com diferentes profissionais para que os pais se sintam seguros na escolha. Se o terapeuta tem um bom relacionamento com a escola, é bom, mas não acredito que a escolha deve se basear neste critério, pois, em algum momento, é inevitável que um terapeuta discorde da escola e precise impor algumas necessidades da criança. Quando escola e terapeuta têm uma aliança, isso pode colocar o olhar do terapeuta “em risco”, contaminado pelas opiniões da escola.
PARATODOS: Vale oferecer a escola os caminhos para adaptar materiais ou
mesmo fornecer o que for facilitar a vida escolar do seu filho?
FERNANDA: Sim. Acho muito útil, pois a inclusão vem sendo construída por
“muitas mãos”. Sendo assim, muitas vezes os pais e os próprios terapeutas
têm dicas valiosíssimas para fornecer a escola. Estas dicas podem ser desde
materiais e adaptações até as próprias preferências da criança (o que pode
facilitar muito uma dinâmica em sala de aula). Por exemplo, tínhamos uma
criança com muita dificuldade em participar do momento da leitura em sua
própria escola. Dicas dos pais sobre personagens que encantavam a criança
de forma muito peculiar foram determinantes para a professora escolher outras leituras que beneficiariam, tanto a turma, quanto poderiam trazer à criança uma questão mais para perto. A estratégia funcionou e, depois de uma rodada de livros sobre “piratas”, a criança manteve o seu interesse na rodinha com outros personagens.
PARATODOS: Como os pais podem ajudar o filho a fazer amigos?
FERNANDA: Ajudando-o sempre desde pequeno a não ter receio de se
aproximar de outras crianças. Sei o quanto isso pode ser difícil, mas uma
criança constrói a sua sociabilidade ao longo dos anos. É impossível exigir de
uma criança uma conduta de uma hora para a outra quando ela não foi
incentivada ao longo dos anos com o suporte dos próprios pais. É bom lembrar que nunca é tarde para começar. Além disso, tornar-se próximo de outros pais, como já foi dito, ajuda a criança a estar mais incluída no grupo. Iniciativas como chamar os amigos para programas na própria casa ou em espaços públicos podem ser uma boa maneira de aproximar as crianças, quando os pais da criança em questão estão mediando a situação.
PARATODOS: É importante frisar a importância dos pais na vida escolar do
seu filho?
FERNANDA: Sim. Os pais têm de entender exatamente do que o filho precisa. Às vezes, são necessários suportes externos para facilitar a vida da criança a escola. Por exemplo, um reforço em determinada matéria para que a criança consiga acompanhar a turma com mais tranquilidade. Saber da vida escolar também ajuda os pais a reportarem frequentemente aos terapeutas a situação da criança no grupo para que possam, assim, antecipar situações e contorná-las antes que tenham impacto na vida da criança. É bom lembrar que a vida escolar não se resume ao conteúdo escolar. A inserção da criança no grupo é um importante ponto de observação.
PARATODOS: E as festas da escola? Os pais devem avaliar a importância de uma criança participar dos eventos da escola?
FERNANDA: Participar dos eventos de uma maneira geral é bem válido.
Precisamos ter cuidado para não expor a criança a uma situação difícil para
ela. Acho que o melhor termômetro para essas situações é sempre a família entender exatamente como será a festa. Terá uma apresentação? Se sim, os pais veem o próprio filho confortável na situação? E veem a si mesmos confortáveis? Se estão seguros, é um bom sinal para seguir em frente. Se há insegurança, as dúvidas em relação ao evento devem ser esgotadas. Se o incômodo persistir, melhor deixar para participar de uma próxima vez. É importante saber dosar uma exposição desnecessária (por exemplo, no caso de uma criança tímida) versus excluir sempre o filho dos eventos sem nem pensar (isso leva à exclusão).
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