Filme O Contador
Autismo

Filme O Contador


Ontem, 20 de outubro de 2016, fui assistir à estreia do filme "O contador" (The Accountant, 2016), com Ben Affleck, que interpreta o papel de Chris Wolff, um contador com autismo que tem capacidades incríveis para a matemática, e que, de vez em quando, faz justiça com as próprias mãos.

Bem, eu sou louca por livros e filmes desde sempre, então, acabo fazendo críticas de tudo o que leio e assisto. No caso deste filme, em que o personagem principal tem autismo, eu tentei assistir com olhos de uma pessoa leiga no assunto. Uma pessoa que foi ao cinema com o namorado para assistir a um filme de ação/drama.

Para que ainda não assistiu, cuidado com spoilers! Se preferir, leia somente depois de assistir. Mas procurei não contar muito e acho que dá para ler e assistir depois.

Continuando. Mesmo me fazendo de leiga, não deu para aguentar quando um profissional de saúde mental diz aos pais, que perguntam o que seu filho tem, que ele não gosta de rótulos. Mas segue explicando aos pais alguns traços típicos em autistas, o que, em minha opinião, pode levar o público a acreditar que será sempre assim. Autismo não é rótulo, é característica e faz parte da neurodiversidade.

Em alguns momentos, o filme me dava a impressão que dali, daquele personagem, sairia um super-herói com autismo a qualquer momento. Eu não sabia se ele era uma versão autista do Batman, ou se ele era um cara tipo Jason Bourne (da série de filmes Bourne, que eu adoro!).

O personagem também traz a velha impressão de que ser autista é ser super-dotado. A versão savant do autismo já foi relatada antes em outros filmes e nós, pais, temos que explicar para milhares de pessoas que toda pessoa com autismo é diferente. Já cansei de ouvir a pergunta: "Mas qual é o super poder do Nicolas? O que ele faz de diferente?". Levo no bom humor (afinal, nem todo mundo é obrigado a saber, mas eu sinto-me obrigada a explicar) e digo que o super poder dele é o poder da beleza. Ele é ótimo em ser lindo e inteligente do jeitinho que é. O Nicolas não tem nada de diferente que um neurotípico teria.

Quando Chris Wolff encontra Dana Cummings, interpretada pela atriz Anna Kendrick, dá para perceber que ela também é diferente do que se espera do normal imposto pela sociedade, mas não chega a ser savant ou ter autismo. Essa aproximação entre os dois, principalmente quando começam a correr risco de morte, tirou várias risadas de quem estava assistindo no cinema. A relação dos dois fica complicada a partir do momento que Chris nota que sente algo por ela, mas não consegue lidar com seus sentimentos. Fica aí mais uma marca que pode ser mal interpretada: autistas não são capazes de amar ou ter empatia. Mas, quando ele a salva, eu vejo empatia e sentimento. E para quem veio ler aqui, sem ter contato com autistas, saibam que eles são diferentes e que muitos conseguem amar e serem amados. Alguns casam e constroem famílias. Outros, com um grau mais severo e com comorbidades também severas, às vezes, não conseguem levar uma vida amorosa adiante. Mas não são todos!

Não quero me alongar muito sobre o filme, mas acredito que será, novamente, nossa missão, como pais, continuar a conscientização para que as pessoas não pensem que autista é uma raça única de gênios e desprovidos de sentimento.

Como plateia comum, aquela que foi ao cinema com o namorado, o filme é legal. Só legal. Nada de extraordinário. Poderia ter sido melhor e com menos flashbacks.

Como mãe de autista, fica meu relato acima. E também não acho que o filme passará a impressão que todo autista é assassino. A mãe de Chris o abandona com o irmão e com o pai, um militar. Será que toda mãe de autista vai embora e abandona seu filho? O pai, militar, dá um treinamento militar aos dois filhos. Será que todo pai militar leva o filho a Jakarta para ensinar técnicas militares? Se for assim, "Cidade Deus" diz que todo "preto favelado" é drogado, traficante e vagabundo. "Tropa de Elite" I e II dizem que só os policiais do Bope prestam e que todos os policiais e governantes não prestam, sem exceção. O "Máscara" diz que se encontrar uma máscara na rua... E a lista é grande. Mas muita gente assiste e não fica com o estereótipo de que todo mundo é igual ao que tal filme relatou.

Sim, os filmes passam estereótipos para a sociedade em geral sobre todos os assuntos possíveis e sempre tem gente reclamando sobre feminismo, machismo, xenofobia e preconceito em geral, mas dá para ser mais esclarecido e esclarecer mais para os outros.

Saí do cinema sabendo que era um personagem de ficção, em um filme mediano e que não representa meu filho. Aliás, meu filho tem que ser representado por ele mesmo. Ele é único, assim como o seu.








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