Autismo
Diferente pra quem?
 
 

Outro dia, uma equipe da TV Brasil foi à escola do meu filho mais novo, o  Luca, de 3 anos, que está no Transtorno do Espectro Autista (TEA) -  seguindo seus passos e evoluindo em seu ritmo, graças a Deus - para  fazer uma matéria. A escola é inclusiva e uma das poucas do Brasil que  tem material adaptado para a maior parte das deficiências sejam elas  físicas ou intelectuais.  
A reportagem era sobre como as crianças neurotípicas lidavam com a  inclusão. Um olhar da criança sobre a outra, sobre o colega, neurotípico  ou não. E as respostas me surpreenderam. A repórter perguntou para uma  menina neurotípica o que ela via de diferente na coleguinha que sentava  ao lado, autista. E a resposta foi linda. Depois de olhar para a menina  durante alguns segundos, a garota de 7 anos respondeu: “O cabelo dela é  enrolado e o meu não. Ah, e ela vem com lacinho vermelho de vez em  quando. Eu gosto de rosa.” Simples assim.
As outras respostas foram no  mesmo nível. Com sinceridade e pureza, como as crianças são. Aí me dei  conta que quem dá importância e tem verdadeiro medo das diferenças somos  nós, adultos. Não por maldade. Muitas vezes é medo. Medo do  desconhecido, medo de pensar que um dia aquele poderia ser o nosso  filho. Conheci pais que tiraram seus filhos de escolas inclusivas com  medo de ele “ficar igual” ao coleguinha que não falava direito, que  tinha umas estreotipias estranhas e que não tinha o mesmo traquejo  social que o seu filho. As crianças mesmo lidam com a inclusão da forma  mais natural possível.
Minha experiência maior é na educação infantil. Sei que quanto mais  velhas as crianças vão ficando, a tendência é que as diferenças as  afaste. Isso pode ser diferente se os pais conversarem, desde cedo e com  naturalidade sobre o porquê de o amiguinho por exemplo ainda usar  fralda, ou ainda não falar, ou ficar isolado quando todos estão  brincando... Mas aí eu pergunto: como os pais vão falar sobre isso  naturalmente se eles mesmos não conseguem pensar no assunto por medo de  que um dia isso aconteça nas suas vidas? Conviver com as diferenças  desde criança é um baita aprendizado. Sei por experiência própria e  porque vejo isso em casa atualmente.
Tive um irmão excepcional em último grau. O parto foi complicado, ele  ficou alguns minutos sem respirar e teve paralisia cerebral severa.  Faleceu aos 17 anos sem falar, sem andar, tinha fortes convulsões... fui  criada com ele e não tínhamos vergonha de levá-lo onde íamos: passeios,  viagens, praia... o difícil era sentir o olhar das pessoas. O resto era  fichinha. Agora, vejo o Thiago, meu filho mais velho, de 5 anos, com o  Luca e me emociono. O Thiago é um irmaozão. Defende o Luca no parquinho  se algum menino quer tomar o brinquedo dele, por exemplo.... fala para  todo mundo que aquele é o irmão dele. Que é para ele ser sim, incluído  na brincadeira!  Se um amigo pergunta porque o Luca não fala direito,  ele responde que o irmão está aprendendo.
Eu, provavelmente ficaria 10  minutos explicando o autismo, o diagnóstico, iria me enrolar toda para  chegar  à mesma resposta incrivelmente sincera do Thiago. Ultimamente  pego ele conversando com o Luca, ensinando o irmão a falar. Fica  modulando as palavras: “Luca, fala ‘leão”, e o Luca repete. Aí o Thiago  grita de onde estiver: “mãe, o Luca falou leão”. E vibra com cada  palavrinha nova do irmão. Não são irmãos perfeitos, viu gente! Longe  disso! Se pegam várias vezes, rolam no chão, brigam por brinquedo, mas  eu noto que o Thiago não se importa com o fato de o irmão ter um  vocabulário de 80, 100 palavrinhas, que  seria normal para uma criança  típica de um ano e meio, por exemplo. Isso tem feito ele aprender a  conviver com as diferenças de forma natural.
Outro dia, no play do condomínio onde moramos, tinha uma criança  cadeirante olhando as outras brincarem. Ele saiu de onde estava e a  chamou para brincar de pique-esconde com os outros... ele nem pensou na  possibilidade de a cadeira ser um problema. A criança foi, brincou e os  outros amiguinhos ajudaram ela a se esconder, deram dicas e tudo mais.  Eu, no meu olhar de adulta, mesmo tendo convivido com as diferenças  minha vida toda, fiquei toda cheia de dedos, com medo de que o convite  para brincar pudesse constranger o amigo que estava na cadeira de  rodas... Mas a criança que ainda não tem o olhar treinado, que ainda não  tem o medo enraizado, não pensa dessa forma ainda. 
Minha reflexão disso tudo, como mãe relativamente nova de filho especial  (o diagnóstico do Luca foi dado há pouco mais de um ano), é que faz  muito bem para nós conviver com as diferenças. Nos torna adultos  melhores. Mais humanos e compreensivos. Pode nos fazer até pessoas  melhores, se soubermos aproveitar a experiência.
Publicado em 11/04/2012 
Na pracinha: Mães especiais: diferente pra quem?:
  
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