Desde 2007 meu filho faz uma dieta rígida que eu denomino como a DAMA - Dieta Amiga do Autista.
Nesta dieta não entra glúten, leite, soja, açúcar, corantes, aditivos neuro excitatórios como glutamato monossódico e aspartame e alimentos alergênicos.
A princípio eu sabia que ele era alérgico a alho e mandioca. E mesmo tendo uma alimentação super controlada, melhorando visivelmente dos sintomas que foram agravados pelo autismo, nos últimos 2 anos ele foi ficando cada vez mais reativo a um número maior de alimentos como vocês podem ver na postagem "Alergia Cerebral e Autismo".
Seu comportamento se mantinha controlável desde que os alimentos fossem mantidos longe. Cada vez que ele consumia acidentalmente algum dos alimentos, as reações ficavam mais graves e demoradas. Ao mesmo tempo, mesmo não consumindo acidentalmente, cada vez mais eu percebia que ele reagia a alimentos que não apresentava reação antes, principalmente fenóis. A intolerância a fenol complica muito o caso, 1º porque há muitos alimentos ricos em fenóis (chocolate, frutas silvestres, cítricos, tomate, oleaginosas...) e 2º porque os alimentos fenólicos são ricos em antioxidantes e portanto, é importante consumi-los. Compostos fenólicos dependem de moléculas de sulfato na fase II de desintoxicação do fígado para serem excretados. Não havendo sulfato suficiente, há um acumúlo de fenóis no corpo gerando aumento de toxinas.
Ele passou a ter verdadeiros surtos psicóticos muito desgastantes. Obviamente alguma coisa estava errada e o mais óbvio é chegar a conclusão de que seu intestino estava hiper permeável.
Um intestino permeável permite que alimentos parcialmente digeridos entrem na corrente sanguínea ativando reações alérgicas.
O que gera um intestino permeável?
- Disbiose intestinal: predominância de bactérias patogênicas, Candidiase e fungos;
- Alimentação inadequada rica em amidos e carboidratos refinados;
- Baixa sulfatação. Como eu comento no meu livro, a baixa concentração de sulfato altera a função dos glicosaminoglucanos heparansulfatados que seria entre outras, manter as células da mucosa intestinal unida.
Sabendo disso, parti para a eliminação: meu filho não tem problemas de disbiose e nem uma alimentação rica em amidos que propiciasse esse desequilíbrio. Em compensação, o problema de sulfatação foi comprovado em laboratório. Nos mesmos exames seu nível de vit. D no plasma estava baixíssimo 15ng/ml. Abaixo de 20 ng/ml é uma deficiência significativa que pode gerar consequências graves. Um nível entre 70 e 100 ng/ml seria o ideal para pacientes crônicos.
Já que passei a ver tanto distúrbio envolvido com a vit. D, comecei a me perguntar: Será que a deficiência de vitamina D poderia estar afetando os níveis de sulfato e com isso deixando seu intestino cada vez mais vulnerável?
Parti para a pesquisa e... não é que tem tudo a ver?!
Estes são alguns dos resultados encontrados:
- Uma das proteínas chaves envolvidas no transporte transcelular de sulfato é a NaSi-1 e a vit. D controla este processo através da expressão desta proteína. Como a expressão desta proteína acontece nos rins, há uma grande excreção de sulfato na urina e os níveis plasmáticos são diminuídos em 50%. O aumento da disponibilidade de vit. D altera a expressão desta proteína aumentando a sulfatação;
- Outra proteína que também transporta sulfato e se expressa nos rins a NA-SO4, também é afetada pela deficiência de vit. D. Na pesquisa, a suplementação de vit. D resultou numa normalização dos níveis plasmáticos de sulfato, na normalização da proteína e na excreção urinária de sulfato;
- Os receptores de vitamina D desempenham um papel crítico na homeostase da barreira intestinal, preservando a integridade dos complexos de junção e da capacidade de cicatrização do epitélio do cólon. Portanto, a deficiência de vitamina D pode comprometer a mucosa intestinal, levando a susceptibilidade à danos.
- O sulfato é essencial na formação das proteínas de mucina que cobrem as paredes do intestino. Estas proteínas tem duas funções importantes: barrar o vazamento do conteúdo do intestino e bloquear o transporte de toxinas do intestino para a corrente sanguínea.
- O sulfato é necessário para liberar a cascata de enzimas digestivas pancreáticas: proteases, amilases e lipases. Sem elas os alimentos não são digeridos corretamente agravando a situação do intestino e das alergias e disbiose;
Referências:
- Critical role of vitamin D in sulfate homeostasis: regulation of the sodium-sulfate cotransporter by 1,25-dihydroxyvitamin D3: http://ajpendo.physiology.org/content/287/4/E744.full
- Abnormal Sulfate Metabolism in Vitamin D–deficient Rats
Isabelle Fernandes,* Geeta Hampson,* Xavier Cahours,‡ Philippe Morin,‡ Christiane Coureau,* Sylviane Couette,*Dominique Prie,* Jürg Biber,§ Heini Murer,§ Gérard Friedlander,* and Caroline Silve*
*Inserm U 426, Faculté Xavier Bichat and Université Paris VII, Paris, France;
‡Institut de Chimie Organique et Analytique and URA CNRS 499, Université d’Orléans, Orléans, France; and § Department of Physiology, University of Zürich, Zürich, Switzerland.
- Novel role of the vitamin D receptor in maintaining the integrity of the intestinal mucosal barrier: http://ajpgi.physiology.org/content/294/1/G208.abstract?cited-by=yes&legid=ajpgi;294/1/G208
- Sulfate and Sulfation
R.H. Waring, School of Biosciences, University of Birmingham, Birmingham. B15 2TT U.K.
Conclusão:
Em caso de constatação de alergia alimentar múltipla, hiper permeabilidade intestinal e intolerância a compostos fenólicos, além das medidas profiláticas de afastar os alimentos indevidos da dieta, suplementar com enzimas digestivas e enzimas próprias para a degradação de fenóis, é importante direcionar adequadamente os níveis de sulfato bio disponíveis e chegar a um nível adequado de vitamina D para um processo adequado de sulfatação