Autismo

Este texto eu escrevi após ler nessas férias o Livro " A História de Thor", de minha amiga Cláudia Guenther, e através da emoção que a leitura me trouxe, constatar o quanto as nossas histórias (minha, sua, dela) têm em comum.

Comum a todos nós

Com o passar do tempo e o somatório de experiências, mais se solidifica em mim a certeza de que, independente do grau de comprometimento em que nossos filhos estão dentro do espectro do autismo, há muitos sentimentos, situações, e até mesmo vivências que nos são comuns.

A sensação é de que uma única camisa cabe perfeitamente em todos. Como se ao ouvir um depoimento, o nosso íntimo questione: “Ele me conhece? Está falando sobre mim! Como pode, foi exatamente assim que aconteceu comigo?”

Este foi o sentimento que fiquei ao terminar de ler o relato de uma mãe, especialíssima, como nós, feito através de seu livro “A História de Thor”, por Claudia Cristine Cugnier Guenther.

Em muitos momentos, ao virar as páginas, me vi perfeitamente retratada pela sensibilidade das palavras de uma história que não era a minha, mas falava de mim com tanta propriedade, com tanta verdade.

Ao terminar a emocionante leitura, dentre tantas sensações, a que ficou mais forte foi a de que somos, em muitos aspectos, gêmeos idênticos do destino. Seja qual for à realidade sociocultural em que estejamos inseridos.

Faço então uma retrospectiva e me vem à mente as inúmeras vezes em que recebi o retorno de mães e familiares, de vários cantos do Brasil e até do exterior, declarando essa flagrante identificação.

Confesso que a clareza da constatação renovou e fortaleceu ainda mais meu ânimo de continuar registrando minhas experiências, porque o compromisso com a verdade contida em meus relatos, da qual não abro mão, sempre poderá ser útil a quem com eles se identificarem, ainda que apenas para não nos sentirmos tão sozinhos.

Não vamos nos fechar em conchas. Há que termos coragem para partilhar. Toda troca tem por princípio favorecer a ambos os lados. Quanta falta isso me fez em tantos momentos deste meu caminhar e quanta coisa boa recebi desde que me despi da luta solitária.

Assim, como que para corroborar a beleza e o ganho que essa troca nos traz, peço licença à mãe de Thor, para fazer minhas algumas de suas palavras:

“... Se por um lado a informação nos aproxima desse universo, por outro não há praticamente uma fonte que seja capaz de nos ensinar a sermos pais, amigos ou familiares de pessoas com necessidades especiais... “

“... Tudo o que ela disse perdeu o efeito. As palavras, o som e o tom da voz dela não faziam mais escalas em nossos ouvidos, agora não mais atentos. Tudo havia se resumido em: seu filho é autista...”

“... o desconhecido assustou-me. Aliais, de tempo em tempo, ele faz isso comigo quando me coloca impotente diante de alguma situação nova...”

Você se reconhece?

Roberta Haude

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